Cordeiro: uma viagem desconcertante à natureza humana

4 estrelas Críticas

A sinopse de “Cordeiro”, a estreia do realizador Valdimar Jóhannsson em longas-metragens, diz-nos o seguinte: a rotina de María e Ingvar, um casal que vive na Islândia rural, é interrompida quando descobrem um bizarro recém-nascido no seu curral de ovelhas. Este evento leva o casal a tomar uma decisão que desafia as leis da natureza.

E eu diria ainda mais, porque ao vermos este filme é rapidamente óbvio que estamos perante um filme desconcertante e bizarro na sua premissa, mas que transporta-nos numa viagem com diversas metáforas e julgamentos que nos deixam a pensar em diversos temas e situações. Uma das coisas mais agradáveis de ver nesta obra é a forma como em nenhum momento nos é dada uma clara e directa informação do que leva aquele casal a tomar as suas decisões, e isso remete sempre o público para o plano da dúvida constante, do estar sempre a questionar-se ‘Porquê?’, e isso acrescenta realmente muito valor ao filme no seu todo, e conseguindo desta forma inteligente afastar-se dos clichés mais comuns que observamos infelizmente na maioria dos filmes.

Sem querer dar spoilers, gostaria apenas de dizer que o final deste filme é muito surpreendente, apesar de já se poder adivinhar que algo no mínimo estranho deveria de acontecer, mas consegue realmente ser diferente e diria até ousado, deixando o público com ainda mais perguntas e menos respostas, nunca deixando assim a sua linha bizarra e com uma metáfora profunda sobre a natureza humana e animal, assim como a maternidade e a relação entre o ser humano e o animal. Aquilo que nos une e nos separa. O que poderá aqui falhar é o facto de que na sua generalidade o filme não conseguir deixar uma marca forte em quem está a ver, e tratando-se assim mais de quase um ensaio filmado ou um debate interno sobre certas temáticas, e nunca conseguindo ser distinto quanto obra cinematográfica, a meu ver claro. Outro factor que pode ser desviante é uma linha narrativa meio secundária quando aparece uma terceira personagem, mas que julgo estar intrinsecamente ligada à narrativa principal, podendo no entanto ter sido abordada de uma outra forma.

Gostaria também de destacar o grande trabalho do pequeno elenco, com um destaque especial para a actriz Noomi Rapace que consegue uma ver mais provar o seu imenso talento numa interpretação muito intensa e por vezes enervante. Outro dos pontos mais fortes desta obra é a sua direcção de fotografia que nos apresenta planos sublimes numa paisagem deslumbrante, para além claro da realização e argumento. “Cordeiro” estreia hoje nas salas de cinema portuguesas.

Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.

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