O realizador David Cronenberg já tem uma extensa carreira cinematográfica, tendo já realizado mais de 20 filmes, e a sua filmografia é bastante reconhecida por um estilo de filmes sci-fi que misturam temas como a tecnologia, a humanidade e o seu futuro, com a própria condição carnal do ser humano e as suas limitações físicas e transformações. Cronenberg joga de forma única com tudo isto, criando normalmente uma sopa de géneros nos seus filmes que têm a sua própria marca. Mas já há alguns anos que Cronenberg tem-se aventurado por outros caminhos e temas, sendo que agora com estes “Crimes do Futuro” o realizador volta a demonstrar o seu interesse por temáticas que gosta e que explora como ninguém, como se estivéssemos a ver um regresso de Cronenberg ao seu futuro, ao seu imaginário.
São claras as parecenças que “Crimes do Futuro” tem com títulos como “eXistenZ“, e não confundam com o filme do mesmo título também realizado por Cronenberg em 1970, sendo que este não se trata de uma sequela ou um remake, partilhando apenas o título em si.
Neste filme somos confrontados com um futuro distópico onde o corpo humano é capaz de produzir novos órgãos, onde a cirurgia é uma forma de arte performativa (e também de prazer), onde alguns humanos são capazes de digerir plástico, e onde a dor física parece já ser algo do passado. Com tudo isto impõem-se diversas questões: como será o futuro da humanidade? Será este o rumo natural da evolução humana? O Homem já está a transformar-se em outro tipo de ser?.
Todas estas questões são inquietantes e interessantes, conseguindo Cronenberg, uma vez mais, deixar a sua marca neste tipo de filmes, mostrando que não deixou estes temas no passado, e adaptando-se a novas formas de pensar e conceitos sobre o corpo-humano, por exemplo. Fica, no entanto, aquém dos seus filmes anteriores, a meu ver, muito talvez por culpa do seu próprio nome e do que a sua carreira já apresentou ao público, ou da reciclagem de temas talvez já usados em demasia no cinema em geral. Por outro lado, continua a demonstrar uma vez mais a sua mestria atrás das câmaras, com um filme bastante competente e interessante.
Para além da realização, diria que as interpretações são um dos pontos mais fortes deste filme, com um destaque claro para a interpretação exímia de Kristen Stewart que, a meu ver, é uma das performances mais fortes e marcantes que vi no cinema este ano, mostrando uma subtileza única que encaixa perfeitamente naquilo que a sua personagem representa no conjunto do filme.
“Crimes do Futuro” reaviva os clássicos de David Cronenberg e consegue deixar o público a querer mais.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.