Nunca Nada Aconteceu: vários dramas num só filme

3 estrelas Cinema Português Críticas

O que existe de mais positivo em ‘Nunca Nada Aconteceu‘ é, infelizmente, aquilo que tem de mais negativo. Ou seja, a premissa do filme tem um poder dramático muito forte e interessante, mas ao decorrer do filme somos confrontados com diversos dramas e linhas narrativas, que fica difícil criarmos uma ligação com todas elas, e ficamos com a sensação que fica bastante por ser dito e revelado.

Com a realização de Gonçalo Galvão Teles, o filme apresenta-se bem realizado e tecnicamente competente, mostrando-se aqui uma vez mais o poder que os filmes portugueses podem ter, estando, sem dúvida, a um nível de profissionalismo que compete com qualquer outro filme contemporâneo deste género. As personagens apresentadas são sem dúvida o foco da história, e isso acrescenta um peso maior ao elenco, contudo todo o elenco é capaz de se entregar de corpo e alma, e as interpretações conseguem ser o ponto mais positivo deste filme. Devo, no entanto, ter de destacar as interpretações do falecido actor Filipe Duarte, da actriz Ana Moreira, e da grande revelação que foi o jovem actor Bernardo Lobo Faria, que desconhecia, e que tem aqui uma excelente performance, mostrando o seu talento e potencial como um grande actor.

A história, ou diria mesmo histórias, são, como disse anteriormente, o mais forte e o mais fraco neste filme. As várias linhas dramáticas tentam ser colocadas numa só linha dramática e numa duração de cerca de duas horas de filme, o que não é possível, contudo não deixam de ter o seu interesse, e ficamos com aquela sensação que queríamos mais, e que o filme poderia ter dado mais, ter aprofundado mais as diversas temáticas, ou focar-se mais numa ou outra, e mesmo não se deixar levar por uma certa contemplação que por vezes não acrescenta nada ao filme. Temas como a adolescência, suicídio, divórcio, traição, solidão, família, relações amorosas, entre outros, são aqui abordados, sendo temas que todos nós conseguimos, com mais ou menos intensidade, relacionarmo-nos e ficam sempre algumas reflexões na nossa cabeça sobre o que aqui vimos, e não conseguimos não reflectir sobre isso. E quando um filme nos deixa essa impressão é sempre um bom sinal.

Classificação: 3 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.

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