Céu em Chamas - 5 estrelas - Crítica de Jasmim Bettencourt

Céu em Chamas: Paixões que ardem sem se ver

5 estrelas Críticas

Na costa alemã do Mar Báltico, Leon e Felix tiram uns dias de férias para se concentrarem nos seus projetos artísticos. O que estava planeado serem umas semanas de trabalho criativo sem interrupções, descarrila pela presença de Nadja, que também está a passar o verão na mesma casa de férias. A partir deste encontro inesperado, assombrado por uma natureza revoltada, Christian Petzold constrói um filme que nos hipnotiza subtilmente e dificilmente nos deixa indiferentes.

Desenrolando lentamente, há algo na forma como Petzold filma este grupo de amigos que nos desperta para um certo mistério dentro da imagem. Apesar de uma história que, de outro modo, poderia ser banal, Céu em Chamas seduz-nos para os detalhes subtis das expressões de cada personagem e envolve-nos nas suas paisagens pacatas do Norte da Alemanha. Lentamente, os sentimentos e paixões que surgem nas imagens destes filmes tornam-se em algo cada vez mais intenso e palpável, sem sequer que o espectador dê por isso.

Christian Petzold transforma o espectador numa rã que está num tacho de água que é lentamente aquecido sem que esta percecione isso. Quando damos por isso, estamos emaranhados numa teia de emoções ardentes que apertam o coração. Petzold fez isso nos seus filmes anteriores, e continua a fazer isso de uma forma magistral e talvez ainda mais enigmática em Céu em Chamas. O enigma emocional que Petzold constrói é reforçado pelas interpretações magníficas de Paula Beer e Thomas Schubert, cujo olhar é capturado de forma intensa, sugando-nos para este romance que é tanto banal como singular.

Céu em Chamas funciona quase como um encantamento que recai sobre o espectador. É um encantamento que nos embala no seu ritmo veraneante, hipnotizando-nos nas suas imagens ondulantes, até que nos surpreende com a sua paixão que arde lentamente sem que nos demos conta disso. Tal como o incêndio florestal que arde fora da vista dos personagens e do espectador durante a maior parte do filme, até que se manifesta de forma violenta e com consequências trágicas, este filme é habitado por paixões que ardem sem se ver, que só se dão conta quando já não há forma de escapar com os nossos corações ilesos das suas chamas.

Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.

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