O realizador e argumentista Martin McDonagh já tinha revelado o seu talento na escrita e na realização com as suas obras anteriores, apesar da pouca filmografia ainda, tendo um maior destaque com filmes como “Em Bruges” e “Três Cartazes à Beira da Estrada“.
A sua mais recente aventura cinematográfica, “Os Espíritos de Inisherin”, não fica nada aquém das obras mencionadas, como acrescenta ainda mais valor à sua carreira, pois estamos perante um filme que consegue acertar em tudo e ainda ir mais além, tornando-se como um clássico quase que instantaneamente, e isso é bastante raro acontecer. Para já é, sem dúvida, o melhor filme deste ano.
A destreza com que a narrativa consegue aqui focar-se principalmente em duas personagens e naquilo que as une e separa, servindo como ponte posterior para uma introspecção que fazemos sobre nós mesmos e sobre a sociedade e a forma como o ser humano se socializa e evolui, é tão bem contruída que é impossível não nos comovermos.
Quando todas as peças cinematográficas encaixam tão bem umas nas outras, e damos por nós completamente mergulhados em todos os frames que são apresentados, uma sensação de imensa gratificação enche os nossos olhos, por podermos assistir a uma obra onde se sente a sua coesão e onde tudo tem um propósito.
O argumento, aparentemente simples, contém em si várias camadas que vão sendo desconstruídas ao longo do filme, sendo que no final há caminho para seguir, e o público é como que ‘convidado’ a dar o seu contributo e a pensar naqueles assuntos, ou não. As interpretações são claramente um dos outros pontos altos do filme, com todo o elenco a contribuir com excelentes interpretações, desde as personagens principais às secundárias, e não é de estranhar que os quatro actores mais presentes neste filmes estejam todos nomeados aos Óscares deste ano pelas suas interpretações.
“Os Espíritos de Inisherin” é um filme a não perder, sem qualquer dúvida, e que tem em si uma universalidade tal que será difícil não o considerar como um clássico daqui a uns anos. Essa intemporalidade na história é deveras marcante e única. Que venham mais filmes deste realizador e argumentista.
Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.