Não é segredo para ninguém que após o sétimo filme (Furious 7), a saga Velocidade Furiosa, que se até então tinha alguma preocupação com coerência narrativa, largou-a por completo e passou a reger-se por estes pilares: família, explosões, cenas de ação e clichês. Ora a mais recente adição à franquia, Velocidade Furiosa X, segue exatamente estes ideais, oficializando assim aos fãs mais antigos que está na altura de entrar na quinta fase de luto, aceitação.
Dom Toretto e a sua “família” vivem uma vida relativamente tranquila, apenas realizando simples missões. No entanto, quando o lunático filho de Hernan Reyes regressa à procura de vingar a morte do pai, a família, fragilizada, vê-se obrigada a combater ao lado de aliados improváveis, esta perigosa ameaça, que não vai olhar a medidas para alcançar o seu objetivo, a destruição da tão preciosa Família.
A meu ver, o filme cumpre os mínimos para ser uma experiência agradável para os fãs. Alguns “character moments” estão presentes, assim como, por vezes, a emoção que é elevada por cenas de ação que variam entre o incrível e o completo absurdo. Outro aspecto que decerto também deixa os fãs com um sorriso na cara é a presença de Street Racing, o que demonstra que a saga não se esqueceu por completo das suas origens.
Contudo, este filme conta com vários problemas, sendo o principal o excesso de eventos a decorrer em simultâneo, que é provocado pelo elevado número de personagens (uma consequência da imortalidade). A realização claramente não sabe lidar com esta sobrecarga de informação, criando assim um ritmo desregulado e arrastado. Os saltos constantes entre cenas completamente desconectadas tornam impossível detetar algum tipo de linha narrativa coerente. Mais grave é o facto de ser possível retirar vários elementos do filme sem ter qualquer impacto no desfecho/narrativa. Isto evidencia que a presença de alguns personagens é forçada e apenas procura nostalgia e fan service.
De facto, as personagens não são o forte desta longa-metragem, incluindo o protagonista, o icónico Dom Toretto. Desta vez, a juntar à sua imortalidade e super força, vem a sua habilidade de moralista e motivador. Este último aspeto protagoniza uma considerável quantidade dos milhares de clichês deste filme. Escusado será dizer que os clichês tornam o filme deveras previsível. Eu sei, eu sei… se calhar estou simplesmente a passar ao lado do tema do filme, a família. Mas nem esse aspeto é bem desenvolvido, tirando raros casos, a evolução da relação de personagens é nula e a maioria deles está apenas a existir. Daí a minha menção que a emoção só está presente por vezes. Todo o impacto que os laços familiares têm na história, é fruto do trabalho de produções anteriores. Acontece que, surpreendentemente, o vilão é das melhores peças do filme. Jason Momoa encarna na perfeição um antagonista carismático que enche o ecrã sempre que presente.
Há que constatar que eu apenas cheguei a estas conclusões após muita reflexão sobre o filme, querendo com isto dizer que é possível desfrutar da experiência cinematográfica sem ser incomodado pelos numerosos problemas.
Deste modo, Velocidade Furiosa X é um projeto que pretende ser maior e cobrir mais terreno, todavia sacrifica demasiado para cumprir esse objetivo. É seguro afirmar que está na altura de os fãs mais antigos aceitarem que a intenção de produzir conteúdo genuinamente de qualidade foi descartada pelo estúdio.
Classificação: 2 em 5 estrelas. Texto escrito por Francisco Empis.