Corpos nus deitados sobre madeira, gotas de suor e humidade a escorrer pelas marcas de uma vida vivida – cada marca uma história, cada marca uma dor, cada marca uma felicidade. Um grupo de mulheres junta-se periodicamente numa casa de sauna de fumo no sul da Estónia. Neste mundo paralelo de vapor, fumo, e calor, uma certa liberdade inexistente no mundo patriarcal do exterior aflora. Na convivência destas mulheres, Anna Hints espreita pela escuridão deste espaço e captura as experiências que vão flutuando pelo ar pesado, relatadas nesta liberdade feminina.
Observando os seus corpos imperfeitos, mas belos, Hints constrói lentamente, com cada história relatada, o que significa ser mulher, não só na sociedade estónia, mas em qualquer sociedade do mundo. Experiências são relatadas ao mesmo tempo que observamos os corpos nus destas mulheres que se expõem entre si e também a nós, intrusos temporários neste espaço sagrado de vulnerabilidade.
Através deste emparelhamento de narração de experiências e imagem de corpos femininos nus, as marcas que uma vida deixa tanto na alma como no corpo são nos reveladas. É algo profundamente belo e tocante, sendo impossível conter as lágrimas tanto em histórias de humor como em histórias de dor pela forma profundamente vulnerável e autêntica que são contadas. Neste espaço de sombras e fumo, a realidade torna-se algo incrivelmente latente e emocional.
As emoções suscitadas por estas histórias que são relatadas são inteligentemente elevadas por Hints, que apresenta uma sensibilidade estonteante na forma como captura os corpos destas mulheres, na forma como escolhe as imagens, e na forma como estrutura este filme. Em diversos momentos, saímos deste espaço abafado de calor e emoções para o exterior, acompanhando estas mulheres enquanto se banham nas águas frias de um lago ao lado na cabana da sauna e, desta forma, o espectador também lhe é dada a oportunidade de respirar e refletir sobre a história que acabou de ser relatada. Depois, voltamos a ser mergulhados no vapor emocional da sauna e voltamos a absorver outra história que nos enche de emoções e pensamentos.
A Irmandade da Sauna é um retrato de mulheres com um poder emocional tremendo. É um documentário que nos envolve da mesma forma como o vapor da sauna envolve estes corpos que observamos. É um documentário que coloca a realidade a nu e purga as nossas emoções, da mesma forma como a sauna purga as toxinas do corpo. É um documentário a nu, que revela experiências de uma forma poderosa. É um documentário para se viver, para se rir, para chorar e para se sentir no nosso âmago.
Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.