Validar a prole não é só dar-lhe voz, é dar-lhe espaço para o impacto com estrondo. Fallen Leaves consegue ser um filme do trabalho, do amor e da sátira na sombra… Os elementos ligam o enredo em golpe nórdico-naturalista: seja num pub triste, no frio das ruas desertas ou num karaoke varrido a voz de barítono (perdão, tenor), o filme segura-se nos alicerces-mor da precariedade e da solidão.
Kaurismäki cumpre um ritmo lento em lume médio e põe as fragilidades a nu em ambiente tenso – com uma guerra de fundo (propagada quase em exclusivo pela rádio). No entanto, não deixa de se cumprir a inseparável essência de “luz ao fundo do túnel” nas façanhas labirínticas de um romance tímido.
Um amor de figura ligeira e poucas palavras tem raízes no éter, força nas entrelinhas do subtexto e fenómenos hercúleos na superação dos desencontros que os protagonistas enfrentam. Faz falta mais e melhor palco ao amor em tempos de guerra (esquivando ao vazio dos lugares comuns), seja ele descarado, tímido ou ameno, que seja sempre potente.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por Manuel Seatra.
