O realizador Yorgos Lanthimos está rapidamente a entrar num círculo muito restrito de realizadores que possuem uma visão muito única e própria na forma como fazem Cinema, e também na forma como os seus filmes são practicamente incomparáveis com outros de tão únicos que são. E isto é, sem dúvida alguma, uma demonstração de um imenso talento para a realização de filmes, como também de um imenso amor, paixão e respeito pela sétima arte. E quando refiro aqui a sétima arte, refiro-a como um todo, com todas as componentes técnicas que a englobam, desde a fotografia à direcção artística, banda sonora, efeitos visuais, e por aí fora.
Depois de filmes como Canino, A Lagosta, O Sacrifício de Um Cervo Sagrado ou A Favorita (todos eles a meu ver bastante únicos e distintos), Yorgos Lanthimos estreia agora o filme Pobres Criaturas, que enaltece a um outro patamar a sua dissecação do que é ser-se humano e daquilo que é (ou não) inerentemente humano ou fruto da humanidade, que por sua vez gera diversos tipos de sociedades, convenções sociais e normas, que em si podem reger-se por ‘regras’ muito pouco ‘humanas’ digamos. E esse fascínio pela mente humana, pela espécie humana e a sua complexidade mental e social, é um dos motores mais proeminentes no Cinema de Lanthimos, e diria que este Pobres Criaturas poderá muito bem representar o seu prato principal, numa cinematografia recheada de pratos muito bem confeccionados, num menu onde se está a adicionar mais e mais pratos de excelência, cada um com o seu palato especial.
Em Pobres Criaturas, Lanthimos cria um mundo próprio onde as leis biológicas que conhecemos são quebradas e onde a imaginação e experimentação com o ser humano ganham asas, contudo ao seguirmos a evolução e aprendizagem da personagem principal vamos assistindo a diversas pontes com a nossa realidade, nunca nos encontrando somente de um ou do outro lado, e é nesse limbo que o filme consegue brilhar, ao conjugar na perfeição aquilo com que a fantasia consegue contribuir, mas ao mesmo tempo nunca deixando para trás o ‘mundo real’ e criando estes paralelos de forma exímia. É daqueles filmes que por muitas palavras que eu escreva aqui não irei conseguir descrever o filme em si, e tenho de recorrer à expressão popular do ‘só vendo’ ou ‘vendo para crer’.
Para além de toda a excelente narrativa e realização, Pobres Criaturas também brilha em todas as outras áreas, desde as magníficas interpretações de todo o elenco a todas as componentes técnicas, pelo que não surpreende em nada todas as nomeações e prémios que tem vindo a arrecadar nesta temporada de premiações dedicadas ao Cinema, incluindo diversas nomeações aos Óscares. E também não me surpreenderá se for um dos grandes vencedores da noite dos Óscares, porque acho que para além de ser uma obra bastante merecedora, será possivelmente um filme considerado como um clássico do Cinema contemporâneo. Um filme para ver, degustar, rever e depois degustar outra vez.
Pobres Criaturas está actualmente em exibição nos cinemas em Portugal.
Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.