The Unknown Country - 4 estrelas - Crítica de Jasmim Bettencourt

The Unknown Country: Atravessando o Sonho Americano

4 estrelas Críticas

Abrindo o OutsidersCiclo de Cinema Independente Americano deste ano, que se propõe a explorar as diferentes facetas da família americana, somos convidados para o lugar de passageiro desta viagem com Lily Gladstone. Através de paisagens sublimes do coração dos EUA, acompanhamos Tana, uma jovem nativo-americana que, para lidar com a morte da sua avó decide deixar tudo para trás e perder-se nas longas estradas da América, procurando algo. Nesta viagem, um retrato audiovisual de uma América em crise existencial é lentamente pintado no grande ecrã.

Uma personagem que pouco fala ao longo do filme, Tana é para o espectador um conduto para este retrato, um recetor de vozes que a assombram ao longo da sua viagem. Partindo de Dakota do Sul, atravessando verticalmente os EUA até chegar a Texas, Tana e o olhar de Morrisa Maltz funcionam como um bisturi que disseca este mitológico Sonho Americano que assombra a sociedade e a família americana. Desde vozes do rádio que se misturam entre si nas longas viagens de Tana até a momentos quase de documentário sobre indivíduos com quem Tana se cruza, um retrato complexo e envolvente é construído.

Lily Gladstone afirma-se como uma das grandes atrizes contemporâneas, trazendo a sua capacidade para dizer pouco verbalmente mas imenso através do seu olhar. Os seus olhos que enchem o ecrã, e pelos quais observamos o mundo à volta de Tana, carregam em si toda a dor da sua personagem, tal como toda a viagem emocional que ela faz para além da geográfica para resolver esta dor e desespero. Através do seu olhar, observamos outra viagem paralela.

Em The Unknown Country, encontramos várias vozes e várias personagens, das quais vários pensamentos e ensinamentos podemos retirar. Estas várias personagens que Tana encontra formam uma mandala do que é a sociedade americana e, ao mesmo tempo, uma mandala do interior emocional de Tana. Neste “road movie”, atravessamos os EUA em mais do que uma forma: socialmente, através do retrato feito através das várias vozes que Tana absorve, e emocionalmente, através do que é comunicado pelos olhos observadores de Gladstone.

The Unknown Country é um filme que nos abala. Com um trabalho quase simbiótico entre Maltz e Gladstone, um retrato subtil e sublime tanto de um país como de uma pessoa (que, de uma certa forma, se refletem mutuamente) é construído. Este é um filme que é, ao mesmo tempo, pequeno e enorme, que nos faz pensar no indivíduo e na sociedade em que este se perde. É um filme sobre um sonho americano desesperado e sobre uma viagem de auto-compreensão. E é um filme que nos acompanha nessa viagem, da mesma forma que o acompanhamos – é um processo mútuo.

O Outsiders – Ciclo de Cinema Independente Americano decorre até dia 5 de Maio.

Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.

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