Crítica: Um Domingo Interminável - 3.5 estrelas - Texto de Gianmaria Secci

Um Domingo Interminável: Os domingos da geração Z italiana

3.5 estrelas Críticas Festa do Cinema Italiano

Um Domingo Interminável é a longa-metragem de estreia de Alain Parroni. O filme, produzido por Wim Wenders, fez sessões de antestreia na Festa do Cinema Italiano 2024, onde integrou a secção Competitiva, após ter passado pelo Festival de Veneza onde foi o vencedor do prémio FIPRESCI e do prémio especial do Júri da secção Orizzonti.

Os três amigos Brenda, Alex e Kevin vivem no campo a 30 kms de Roma, passando o tempo como se estivessem em férias intermináveis. Aparentemente, eles vagueiam sem rumo entre shoppings e pontos turísticos, mas na verdade, vivem aventuras que marcarão as suas vidas para sempre. Entre o centro de Roma, visto como uma viagem à Lua, e as praias suburbanas, uma fronteira simbólica de morte/ressurreição, os espaços da capital perdem qualquer referência certa. Sim, porque os arquétipos narrativos clássicos (do coming of age ao triângulo amoroso, da amizade traída ao conflito geracional) são percebidos claramente, mas permanecem em segundo plano, incapazes de se destacar neste fluxo desestruturado de enquadramentos com som ambiente e abstrações súbitas. Uma evidente mediação estética que requer o talento certo (e Parroni o demonstra), mas também equilíbrio e indulgência em relação ao espectador (e aqui está o problema do filme, que não consegue sustentar completamente a sua duração). O filme lembra certos ‘indies’ americanos dos anos noventa, como os filmes de Harmony Korine (Gummo) ou do primeiro Gus Van Sant (My Own Private Idaho), pelo foco em adolescentes problemáticos, mas também pela estética, os enquadramentos.

“A minha geração é uma questão de linguagem”, declara o realizador em diversas entrevistas em 2023. Porém, a nossa relação com as imagens mudou totalmente e os dispositivos para articular um discurso audiovisual sobre o mundo não são privilégio apenas do cinema, mas tornaram-se numa prática quotidiana para todos nós. Parroni, portanto, procura adaptar as linguagens do TikTok e os filtros do Instagram, a fragmentação das stories e a imersividade da realidade virtual, seguindo o discurso desordenado que os três jovens produzem instintivamente sobre si mesmos. O filme também aborda a ausência ou a impossibilidade de ser ouvido pelo mundo dos adultos.

O filme não possui uma estrutura narrativa clássica, mas procura retratar um ambiente, estados de espírito, uma geração. Avança por pequenas progressões, aprofundando a relação entre os três protagonistas até chegar a um final poderoso e talvez inevitável. Apesar de alguns defeitos, Parroni demonstra ser um ‘realizador’, no sentido de ter uma visão muito forte de cinema, um estilo próprio, uma ótima direção de atores e uma excelente escolha de colaboradores (ótima montagem e som). Enfim, Um Domingo Interminável é um filme interessante, excessivo, às vezes sobrecarregado de estímulos visuais, mas sempre sincero em procurar os sinais de um desconforto existencial.

O filme estará em cartaz nos cinemas portugueses a partir de 18 de Julho.

Classificação: 3.5 em 5 estrelas. Texto escrito por Gianmaria Secci.

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