O Doclisboa regressa de 16 a 26 de outubro e abre com o filme With Hasan in Gaza, do realizador palestiniano Kamal Aljafari, uma homenagem urgente à resistência em Gaza. Montado a partir de filmagens feitas em 2001, quando o cineasta e Hasan Elboubou procuravam Abdel Rahim, com quem Kamal esteve preso em Gaza em 1989, quando era adolescente, With Hasan in Gaza é um road movie que nos transporta para um território em resistência, marcado pelas coexistência entre a vida comum dos seus habitantes e a permanente violência da ocupação. Este é um filme singular na obra do realizador de A Fidai Film (2024), um gesto de reivindicação da vitalidade das imagens da vida em Gaza como contraponto e memória face ao actual genocídio do povo palestiniano pelo Estado de Israel.
A fechar, o Doclisboa mostra A Árvore do Conhecimento, de Eugène Green. Desde A Religiosa Portuguesa (2009) que o cineasta tem dedicado um interesse muito particular a Portugal, que se prolonga em Como Fernando Pessoa salvou Portugal (2018) e Lisboa Revisitada (2019). Green regressa agora à capital portuguesa com uma fábula sobre um adolescente, um ogre e um pacto obscuro, numa crítica nem sempre velada ao modo como a cidade se rendeu ao turismo. A Árvore do Conhecimento é uma co-produção luso-francesa entre O Som e a Fúria e Le Plein de Super, protagonizada por Diogo Dória, Leonor Silveira, João Arrais, Ana Moreira e Rui Pedro Silva.
Na Terra à Lua, programa não-competitivo com uma selecção de obras que nos permitem ver os mundos de ontem, hoje e amanhã através de histórias de múltiplos lugares e tempos, está O Riso e a Faca integral, de Pedro Pinho, versão longa e em estreia mundial do filme premiado em Cannes (Melhor Actriz na secção Un Certain Regard para Cleo Diára). Na mesma secção apresentar-se-à também Remake, de Ross McElwee, que regressa ao cinema depois de uma ausência de 14 anos, num filme que é em simultâneo uma reflexão sobre as suas criações e um tributo emocionado à vida do seu filho Adrian, uma figura recorrente na sua obra, que faleceu em 2016. Em 2005, o Doclisboa fez a mais completa apresentação dos filmes do realizador norte-americano até então realizada na Europa e editou uma brochura com textos críticos sobre a sua obra. Seguimos na Terra à Lua com Bulakna, de Leonor Noivo, que chega ao Doclisboa depois do Prémio Renaud Victor na última edição FIDMarseille. O filme aborda questões fundamentais da nossa época: a profunda desigualdade social num mundo pós-colonial, ao mesmo tempo que toca nas profundezas mais íntimas do ser humano – o valor do trabalho, do corpo e da vida.
Na secção Heart Beat, Memórias do Teatro da Cornucópia, de Solveig Nordlund, mostra, com recurso a imagens de arquivo de vários espectáculos, desde a sua origem até ao seu fecho, peças emblemáticas da companhia fundada por Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo, em 1973. Na mesma secção, Bull’s Heart, da grega Eva Stefani, acompanha de perto os preparativos para a criação Transverse Orientation do coreógrafo Dimitris Papaioannou e a sua digressão pelos teatros europeus.
Em outubro, o mundo inteiro cabe em Lisboa.