Escritora, jornalista, política – Natália Correia era uma mulher de diversas faces, cada uma delas igualmente fascinante e complexa. Uma mulher com um legado enorme e que marcou a cultura portuguesa na segunda metade do século passado e cujo impacto ainda se pode sentir hoje em dia. Como fazer um retrato de tal figura? Quem sequer foi esta figura? Em A Mulher que Morreu de Pé, Rosa Coutinho Cabral convida-nos numa viagem pela vida desta mulher inigualável, debruçando-se sobre estas questões, tentando descodificar o seu espectro.
Através da exploração do arquivo de Correia e através de um conjunto de performances de atores que exploram a sua obra e as suas intervenções políticas, Cabral foge da estrutura típica deste tipo de documentário. Misturando teatro e cinema de uma forma mágica, este filme torna-se num verdadeiro ritual para resgatar o espírito inquieto de Natália Correia. Dando corpo às suas palavras com sabor açoriano, várias das suas vertentes materializam-se no ecrã e lentamente vamos conhecendo melhor esta grande e lúcida mulher. No entanto, o interesse e o charme deste filme está no que não se consegue alcançar, no que fica sem conclusão, no enevoado e encoberto. É através deste mistério que paira no ar que A Mulher que Morreu de Pé fica connosco e nos dá vontade de querer conhecer mais e refletir mais.
Este é um documentário que, através de um casting perpétuo, explora a sua figura central de uma forma fascinante. É uma homenagem belíssima que nos convida na sua jornada de conhecer quem foi esta mulher, não simplesmente debitando factos sobre a sua vida. É uma experiência em que navegamos pelo mundo desta mulher dissidente e apaixonada, saindo com uma nova inspiração para o nosso dia a dia.
O filme faz parte da secção de Competição de Longas da 11.ª edição do Festival Olhares do Mediterrâneo que decorre de 31 de Outubro a 7 de Novembro em Lisboa.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.