O novo filme de João Nuno Pinto, 18 Buracos para o Paraíso, teve a sua estreia mundial na 29.ª edição do Tallinn Black Nights Film Festival (PÖFF), um dos mais prestigiados festivais de cinema dedicados ao cinema de autor na Europa. Um dia depois desta apresentação, a longa-metragem apresenta-se na 40.ª edição do Mar del Plata Film Festival, na Argentina, o único festival de classe A da América Latina.
Com interpretações de Margarida Marinho, Beatriz Batarda, Rita Cabaço e Jorge Andrade, entre um elenco que integra igualmente membros da comunidade local onde o filme foi rodado, 18 Buracos para o Paraíso decorre numa herdade portuguesa assolada pela seca. Proprietários e trabalhadores contam a mesma história a partir de perspetivas opostas, expondo contradições, fragilidades sociais e um território à beira do colapso. A longa-metragem tem 108 minutos, é falada em português e italiano, e tem estreia prevista em Portugal em 2026.
Numa reflexão profundamente ancorada na realidade ambiental portuguesa e na crise global que atravessamos, João Nuno Pinto apresenta a sua visão sobre as origens e o propósito do filme:
“18 Buracos para o Paraíso nasceu de um desejo antigo de refletir sobre a catástrofe ambiental que estamos a testemunhar; não como uma ameaça abstrata, mas como uma realidade quotidiana. Desde que me mudei para a região árida do Alentejo, em 2020, tenho vivido lado a lado com uma comunidade que enfrenta a seca, a desertificação e as pressões do turismo e da especulação imobiliária. Testemunhei uma paisagem onde os riachos deixaram de encher, a erva deixou de crescer e onde a ausência de água se tornou uma fonte permanente de ansiedade. Esta realidade local ecoa uma crise global.
O filme é, no essencial, sobre o fogo — tanto literal como metafórico — nascido de um pensamento predatório, uma forma de estar que continua a dominar e a conduzir-nos para um abismo. Narrativamente, 18 Buracos para o Paraíso desenrola-se como uma história de múltiplas personagens. Nos dois primeiros atos, é a perspetiva dos proprietários que molda a narrativa, enquanto os trabalhadores permanecem quase invisíveis, movendo-se pela casa e pelos terrenos apenas como guardiões da propriedade. No último ato, os papéis invertem-se: as vozes dos trabalhadores emergem, alterando o equilíbrio da história e reconfigurando a nossa perceção de tudo o que veio antes.
O filme adopta uma estrutura tripartida que permite contar a mesma história três vezes, através das perspetivas singulares — e muitas vezes distorcidas — de três mulheres. Os seus sonhos não se cruzam, os seus mundos não comunicam, num reflexo das sociedades fragmentadas em que vivemos. Esta estrutura tripartida não é apenas narrativa, é também filosófica: dissolve o binário do conflito numa terceira via, onde pontos de vista colidem, se anulam ou, inesperadamente, se recompõem.
Cinematograficamente, quis que o filme fosse íntimo, quase sufocante, colocando o público dentro dos mundos inquietos e frágeis destas mulheres. Em última instância, 18 Buracos para o Paraíso é uma reflexão sobre fragilidade: da terra, da sociedade e da conexão humana. É uma história nascida em Portugal, mas que fala, com urgência, da condição global que todos partilhamos.”
O filme torna-se ainda um marco para o cinema nacional ao ser o primeiro filme português a receber a certificação internacional Green Film, um selo que reconhece produções cinematográficas e televisivas ambientalmente responsáveis.
18 Buracos para o Paraíso é produzido pela Wonder Maria Filmes (Portugal), com Andreia Nunes, em co-produção com a Albolina Film (Itália), de Roberto Cavallini e Debora Nischler, e com a Aurora Cine (Argentina), de Laura Huberman e Ramiro Pavón. A distribuição internacional está a cargo da Alpha Violet.
