Depois da estreia esgotada na edição do ano passado do festival MotelX e passagem por vários festivais internacionais, dos quais se destaca o Fantasia International Film Festival, o filme português O Velho e a Espada, de Fábio Powers, chega finalmente às salas de cinema nacionais a 23 de outubro, com distribuição da Cinetoscópio. O Velho e a Espada é um filme insólito, um raro objeto cinematográfico que desafia categorias e obriga a olhar, com outros olhos, o cinema de género produzido em Portugal.
Fábio Powers, autor multifacetado, com experiência nas artes visuais, na animação e na banda desenhada, assina aqui um projeto absolutamente singular: um híbrido de fantasia rural, tragicomédia existencial e homenagem delirante ao cinema B, ao anime e ao universo tokusatsu nipónico. Uma experiência imersiva que promete transportar o público para um dos filmes portugueses mais originais e surpreendentes do ano.
O Velho e a Espada é assumidamente um filme de série B contemporâneo que mistura comédia, drama e acção. Tem influências marcantes dos primeiros trabalhos de Sam Raimi e Peter Jackson, além de uma forte inspiração no tokusatsu japonês (Kamen Rider e Garo). Há também um toque de surrealismo ao estilo de Jodorowsky. No entanto, à medida que a história avança, o foco recai sobre a solidão e o alcoolismo, explorados de forma psicológica, moral e social. Para além disso, o filme mergulha nos mitos e lendas do nosso país, capturando o folclore transmitido de geração em geração, numa homenagem ao nosso povo e costumes.
António da Luz, o protagonista (interpretando-se a si próprio), é um homem marginal, alcoólico, que descobre – num estado de embriaguez mística – a capacidade de ver as almas das pessoas. Esta premissa, que poderia soar a gag episódica, transforma-se numa poderosa alegoria sobre exclusão, trauma, hereditariedade simbólica e regeneração.
Ao lado de uma espada falante – com voz do veterano João Loy (eternamente Vegeta, para gerações de fãs portugueses de Dragon Ball) – António embarca numa odisseia tão absurda quanto emocionalmente genuína, atravessando uma paisagem rural encantada e assombrada, onde os mitos populares portugueses ganham corpo e voz.

Fábio Powers orquestra uma alquimia estética invulgar: dos movimentos de câmara inspirados em Evil Dead de Sam Raimi, às explosões visuais reminiscentes de Devilman Crybaby ou Ninja Scroll, passando por elementos de teatro popular e humor físico à portuguesa, O Velho e a Espada parece ao mesmo tempo um filme artesanal e profundamente culto.
A espada – uma personagem em si – foi desenhada por Anna Cernawsky e construída por Paula Nunes, com um design que combina simbolismo medieval e estética cyberpunk. Toda esta montagem artística e de produção é ainda mais notável tendo em conta que foi feita com recursos limitados e com forte participação da comunidade local (nomeadamente do grupo Váatão Teatro e da Associação Marafona Encantada).
Vê o trailer oficial aqui:
