Imagem/still do filme "The Shards"

“The Shards” recebe o prémio Doc Alliance em Cannes

Doclisboa Notícias

O Prémio Doc Alliance para a Melhor Longa-Metragem, no valor de 5.000 euros, foi atribuído a The Shards (Geórgia/Alemanha), de Masha Chernaya. O filme foi seleccionado pelo Doclisboa, onde ganhou o Grande Prémio Cidade de Lisboa na edição de 2024. “Na primavera de 2022, Masha prepara-se para deixar a Rússia, o seu país natal. Seguem-se uma série de despedidas inesperadas: a mãe morre de cancro, o companheiro foge ao recrutamento militar e tudo – incluindo o seu antigo eu – começa a desmoronar-se. Como forma de processar o luto, Masha recorre a sua câmara, para captar tudo”, lê-se na sinopse. O júri elogiou o filme “pelas suas qualidades cinematográficas únicas” e distinguiu a sua “linguagem cinematográfica tranquila, resistente às estruturas narrativas clássicas, e que desenvolve uma capacidade impressionante de fundir o luto pessoal com o colectivo”.

Já o Prémio Doc Alliance para a Melhor Curta-Metragem, no valor de 3.000 euros, foi atribuído a We Had Fun Yesterday (Bélgica), de Marion Guillard. “No seu filme, a realizadora reflecte sobre a sua relação consigo e com o seu corpo, a sua distância em relação aos ideais convencionais de feminilidade e os seus encontros inquietantes com os homens – uma exploração autobiográfica entrelaçada com reflexões sobre a forma como percepcionamos os outros: os animais, sejam eles selvagens ou domesticados; a natureza, seja ela intocada ou moldada pela intervenção humana”, refere o comunicado. O júri descreveu o filme como “uma obra honesta e lindamente trabalhada, que cria um ritmo terno através da sua sobreposição de imagens e vozes. Marion Guillard leva-nos para dentro do seu imaginário e do seu fluxo de consciência, através de uma narrativa (cheia de surpresas) que entrelaça as buscas pessoais de identidade e as relações familiares com a visão de ser cineasta”.

Os vencedores do Prémio Doc Alliance 2025 foram anunciados durante o almoço do Doc Day, no Marché du Film, em Cannes. Os filmes premiados foram seleccionados por um júri composto por três profissionais do cinema: Fernando Ganzo (editor-chefe adjunto dos Cahiers du Cinéma), Caroline Kirberg (diretora-geral da pong film) e Gerald Weber (director-geral adjunto da sixpackfilm). Os prémios foram entregues por Alessandra Luchetti, chefe de departamento e directora adjunta da EACEA (Europa Criativa – MEDIA).

Uma selecção dos filmes nomeados – incluindo os quatro nomeados de 2025 Grey ZoneShuruuk23:23 e Bamssi – está agora disponível online em DAfilms.com. A rede de festivais de cinema documental Doc Alliance apoia os talentos emergentes do cinema documental europeu. Cada um dos sete festivais membros – CPH:DOX, Doclisboa, DOK Leipzig, FIDMarseille, Ji.hlava IDFF, Millennium Docs Against Gravity FF e Visions du Réel – bem como o festival convidado Punto de Vista, nomearam uma curta e uma longa-metragem documental dos seus programas. Cada festival apresentará pelo menos três filmes da selecção do Prémio Doc Alliance na sua próxima edição.

Declarações completas do júri:

Melhor Longa-Metragem:

“Este é um filme que provocou longas discussões entre nós – talvez porque é feito de material bruto, mas trabalhado com uma precisão subtil e inesperada. The Shards retrata uma geração perdida, privada do seu futuro democrático por um regime autocrático e arrastada para uma guerra imperial. O filme desafiou a nossa própria relação com o que estávamos a ver – fazendo-nos sentir ao mesmo tempo desconfortáveis e comovidos, lembrando-nos da importância de não desviar o olhar, encarando esta realidade de frente. Talvez nos tenha tocado ainda mais quando reconhecemos que o mesmo sentimento pode ser o ponto de partida para o gesto de Masha Chernaya: pegar na sua câmara, virá-la para o seu próprio país, recolher imagens de uma sociedade que se encontra presa em agonia, mas compreendendo que essa atmosfera a assusta. Queremos homenagear este filme pelas suas qualidades cinematográficas únicas, e a sua realizadora, por dar voz à sua geração de uma forma profundamente pessoal e politicamente ressonante. Esta é uma linguagem cinematográfica silenciosa, resistente às estruturas narrativas clássicas e que desenvolve uma capacidade impressionante de fundir o luto pessoal com o colectivo”.

Melhor Curta-Metragem:

“Temos o prazer de entregar o Prémio de Curta-Metragem a We Had Fun Yesterday, uma obra honesta e lindamente elaborada que cria um ritmo terno através da sua estratificação de imagens e narração. Marion Guillard leva-nos para o seu imaginário e fluxo de consciência, através de uma narrativa (cheia de surpresas) que entrelaça buscas pessoais de identidade e relações familiares com a visão de ser cineasta.
Gradualmente, começamos a compreender que o filme explora a forma como as nossas experiências moldam as nossas perspectivas, como o conteúdo e a forma estão interligados. Reflecte sobre como olhamos, o que vemos – e como isso influencia a nossa percepção do mundo e os nossos caminhos na vida. Revisitando as imagens e os clichés que temos do mundo e de nós próprios, estamos continuamente a tentar definir quem somos e a tentar encontrar um lugar onde nos sintamos à vontade. We Had Fun Yesterday é um filme sobre a procura da imagem “adequada” no meio de todas as inadequações.”

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