Por ruas familiares e ao mesmo tempo estranhas, numa cidade familiar e ao mesmo tempo estranha, dois amigos circulam perdidos e sem rumo. No meio de vozes e experiências, eles procuram algo que não sabem que procuram. Neste não-lugar, nesta periferia, neste Arrabalde, faz-se ouvir a voz irrequieta de uma geração cada vez mais perdida e sem rumo, uma geração que nasceu no ceio de um capitalismo cada vez mais desumano. Neste auto-intitulado “filme-manifesto”, Frederico Serpa procura, através da junção de uma diversidade de imagens, construir o retrato desta geração.
Ao longo deste filme de pouco mais de uma hora, o espectador é sujeito a diversas vozes de questionamento. Vozes que questionam o passado e as estruturas sociais mas que estão aprisionadas nesta posição periférica. Vozes que sofrem de uma letargia pela sua falta de rumo e apenas continuam a circular pela vida, como estes dois amigos numa mota. Um sentimento perdido pervade estas histórias que vão sendo mostradas ou contadas por vozes escondidas nas imagens da cidade suburbana – uma procura por uma ligação com o outro, mas que é sempre incompleta.
No fundo, Arrabalde é composto por estas imagens incompletas, histórias contadas pelo meio ou que não acabam, criando este sentimento de deambulação que caracteriza o filme. Por conta disto, o filme talvez caia no erro de não chegar a fundo nestas questões que retrata, criando algo mais superficial do que parece. O uso de desleixo intencional na construção do filme poderia criar uma sentimento genuíno, mas parece apenas criar uma distância pretensiosa neste, chamando a atenção para a sua própria técnica como um gimmick que não adiciona algo mais.
Apesar disto, Arrabalde brilha nos seus pequenos momentos verdadeiramente genuínos, como a conversa entre estes dois amigos numa espécie de piquenique num verdadeiro não-lugar no meio do nada. Frederico Serpa cria um projeto único de narrativa e observação que, apesar das suas falhas, é uma experiência que desafia o espectador e que materializa de forma interessante este sentimento tão pesado da nossa geração que habita este capitalismo tardio e cada vez mais sem rumo, propósito e significado.
Arrabalde estreia hoje, dia 26 de Setembro, nos cinemas em Portugal. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.