A curta-metragem “Cá Dentro” (Inside) foi realizada por Tiago Pimentel em 2019, tendo feito parte da selecção oficial do Festival Fantasporto e de outros festivais internacionais. Diria que um dos maiores desafios na realização de uma curta-metragem não será o processo em si das filmagens, por exemplo, mas sim o desafio narrativo de captar a atenção e interesse do espectador numa duração reduzida sem que a história pareça apressada e que também não seja indiferente. E atenção: este desafio também existe numa longa-metragem obviamente (quantos filmes já vimos que depois passado um tempo mal nos lembramos deles?), mas é efectivamente mais fácil de superar porque a narrativa tem mais tempo para se exprimir e aprofundar a história, as motivações dos personagens e por aí fora.
Ora, este filme consegue concretizar esse desafio, mantendo uma narrativa que não precisa de se desenvolver muito para a compreendermos, e assim tem o tempo necessário para agarrar o público, deixar o mesmo interessado e suspeito sobre as ações dos dois personagens, embrulhando o final com um clímax que consegue ser interessante e que se encaixa perfeitamente na narrativa (sobre a qual não vou dar muita informação senão estaria a deixar aqui demasiados spoilers). No entanto, julgo que aqui aquilo que resulta muito bem acaba por também ser em parte aquilo que peca no filme, no sentido em que a história é muito fechada num objectivo muito vincado, o que também não dá espaço para que exista uma ligação forte com os personagens. Ou seja, existe um grande foco na ação mas não muito no que vai na mente dos personagens, e por vezes isso pode criar alguma despreocupação e perder o investimento de quem está a ver.
Isto é um reparo por assim dizer, no sentido em que é a meu ver uma parte menos positiva do filme, contudo todos o restantes aspectos, desde a realização, elenco e toda a equipa técnica, estão de parabéns pelo trabalho muito interessante e bem filmado/realizado que é aqui apresentado. Uma boa curta certamente, que agoura um futuro promissor deste realizador, que espero que consiga singrar no cinema português e dar o salto para o formato de longa-metragem.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.