São poucos os filmes que conseguem ser uma obra que chega ao âmago do que é, em parte, ser-se humano e ao que o ser humano foi criando e erguendo porque, na sua essência, aquilo que criamos e a sociedade que nos rodeia, é fruto da natureza do ser humano, quer para coisas boas como coisas más, quer seja para construir ou destruir.
Banzo é um desses filmes. Toca-nos ao longo da sua visualização e carregamos o filme connosco para além da sua visualização, e ficamos incrédulos com tudo aquilo a que assistimos, sabendo que num passado não muito distante a crueldade do banzo era algo comum e praticamente inevitável, assim como toda a crueldade daqueles lugares e daquelas pessoas que sofriam e nem sabiam o porquê. O porquê de passarem por aquelas provações e o desespero que passavam e que nem lhes dava sequer a mínima força para querer continuar a viver.
Este não é um filme fácil de encarar, não no sentido do Cinema em si, porque aí estamos num nível de grande excelência, quer a nível técnico nos diversos departamentos, desde a bela fotografia, ao guarda-roupa, direcção artística, ao elenco e à realização, e atrevo-me a dizer que este é um dos melhores filmes portugueses produzidos na última década. O que é difícil de encarar (mas muito necessário) é a realidade que está presente nesta obra, que revela a crua natureza do ser humano num espaço e tempo próprios, mas que servem de espelho para muitos outros cenários e situações, e é esse sentimento que nos assombra e que carregamos connosco. É um filme que vai muito para além do entretenimento que o Cinema oferece, e cuja universalidade serve como documento educativo e historicamente necessário.
O grupo musical Fado Bicha tem uma música com o mesmo título que descreve muito bem o banzo e o que em grande parte é transmitido neste filme, pelo que penso que será uma boa forma de saberem mais sobre o seu significado:
Banzo é um filme único e singular que recomendo bastante, mas que seria preferível que não existisse se essa realidade não tivesse existido. Estreia nas salas portuguesas de cinema no dia 23 de janeiro.
Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.