Crítica: A Presença. Três estrelas por Jasmim Bettencourt.

A Presença – Um Drama Familiar Assombrado

3 estrelas Críticas

Uma casa vazia. Deambulando de sala em sala, à espera de algo sem saber o quê. Até um dia, quando um carro estaciona ao lado da casa e uma nova família entra dentro de casa e a começa a habitar. Os seus segredos e as suas neuroses preenchem o ar e os recantos da casa. Uma família que parece uma família de classe média alta normal – mas alguma família de classe média alta é normal? Algo obscuro paira sobre esta família, algo que nunca é mencionado e é colocado de parte para que a vida possa prosseguir de modo aparentemente normal. Mas o trauma que nos segue como um fantasma nunca poderá ser superado se não o enfrentarmos de forma verdadeira.

É para esta jornada que Soderbergh nos convida neste estranho drama familiar mascarado de história de fantasma. A assombração e o terror não são tanto o foco deste filme, mas sim as pequenas interações entre membros desta família que observamos, as manipulações, as dinâmicas e os segredos que são revelados nas pequenas palavras familiares. Soderbergh materializa isto colocando o espectador como uma entidade que assombra esta casa de subúrbio americano. Entidade essa que tenta entender esta família e a si própria, de modo igual ao público. Desta forma, e de forma brilhante, a fronteira entre assombração e o espectador é transgredida.

Apesar do constante mundano que é observado, o espectador é sempre colocado num estado de suspense pela observação destes pequenos detalhes nas relações entre os membros da família – as pequenas agressões, o acumular de tensões, um passado traumático que não é resolvido. Desta forma, as interpretações são importantíssimas para a emersão no filme, com especial destaque para Lucy Liu, cuja atenção minuciosa aos pequenos gestos e as pequenas inflexões de fala passivo-agressivas de uma mãe ambiciosa que quer manter o status quo familiar, e para Callina Liang, que é uma verdadeira revelação no filme como o elemento em contacto com a ferida que afeta o espírito da família.

Apesar da forma como o filme se resolve no final não ser das mais satisfatórias, até para o que parece ser o que Soderbergh quer explorar, A Presença não deixa de ser uma experimentação fascinante. Quebrando barreiras de género, transformando o que é quase um melodrama de Tennessee Williams numa história de fantasmas, e quebrando barreiras de expectativas do espectador, este é um filme com muito a explorar e que traz algo de novo através da sua gimmick.

Classificação: 3 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.

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