“Caixa de resistência”, filme ibérico realizado por Concha Barquero Artés e Alejandro Alvarado Jódar e baseado no legado de Fernando Ruiz Vergara (Sevilla, 1942 – Escalos de Baixo, 2011) estreia nas salas de cinema a 27 de março.
A obra pretende dar continuidade aos filmes sonhados pelo cineasta andaluz, que, após décadas de vida em Portugal, onde viria a terminar os seus dias, deixou dezenas de esboços de filmes que nunca chegou a realizar, tendo apenas concluído “Rocío” (1980), uma das primeiras obras censuradas pela democracia espanhola.
“Em 2010, encontrámos Fernando Ruiz Vergara na aldeia portuguesa onde se exilou após a censura ao seu único filme, Rocío. Este documentário sobre a peregrinação mais popular da Península Ibérica desmontava as relações entre o poder religioso, político e económico na Andaluzia. Rocío foi apreendido e censurado judicialmente nos primeiros anos da democracia por denunciar um dos autores de crimes fascistas após o golpe militar de 1936 que despoletou a guerra civil. Atualmente, a versão original de Rocío continua a ser proibida em Espanha. Fernando nunca mais conseguiu fazer outro filme”, afirmam os realizadores.
Rodado entre a Andaluzia e Portugal e já aclamado pela crítica do país vizinho como um dos documentários de criação do ano, “Caixa de Resistência” recebeu o Prémio Doc España na SEMINCI – Festival Internacional de Cine de Valladolid, Prémio de Melhor Filme no L’Alternativa – Festival Internacional de Cine de Barcelona e o Prémio do Júri Jovem no Márgenes – Festival Internacional Cine de Madrid, tendo sido apresentado no nosso país na última edição do Porto/Post/Doc e no Caminhos do Cinema Português, em Coimbra.
O filme resulta de uma coprodução entre Portugal e Espanha. “A minha colega Hemi é espanhola, eu sou português, e, devido a este ADN peninsular, há bastante tempo que ambicionamos trabalhar temáticas de matriz ibérica, dando assim continuidade às parcerias que temos vindo a desenvolver com Espanha. Foi neste contexto que abraçámos este documentário integralmente rodado entre Portugal e Espanha, com um protagonista também ele dividido entre os dois lados da fronteira. Uma obra muito especial que se propõe a repor justiça histórica através do gesto poético do cinema.”, afirma Filipe Araújo, um dos produtores da portuguesa Blablabla Media.
“Fernando foi um cineasta autodidata espanhol que se formou através das cooperativas cinematográficas de Lisboa na efervescência do 25 de Abril. Tão forte se tornou aí o seu vínculo a Portugal, que, nos anos 80, seria esta a terra que escolheria para viver e escrever os seus projetos fílmicos, sem exceção, interrompidos — um deles, com a participação de Otelo Saraiva de Carvalho; outro, com o trabalho nas minas da Panasqueira como pano de fundo… Universos que, a partir das notas de Vergara, Concha e Alejandro foram recuperando ao longo dos anos, condensando-os e re imaginando-os nesta preciosa Caixa de Resistência”, declara a produtora Hemi Fortes.
Vê o trailer oficial aqui: