À medida que me aproximo de terminar esta saga pela terceira vez, surge novamente um sentimento familiar neste contexto, a saudade. No entanto, a questão é porquê, por que razão é que este sentimento é tão recorrente ao finalizar algo de que eu nunca fui especialmente fã? Qual o ingrediente mágico (prometo que não foi de propósito) que torna esta Franchise tão única? Talvez seja a história cativante que aumenta as paradas a cada episódio, ou o mundo por e simplesmente mágico a que somos levados a conhecer (desde Hogwarts, aos milhares de feitiços e poções), ou as atuações brilhantes de nomes como Alan Rickman (Snape) e Michael Gambon (Dumbledore), ou, porventura, o vilão brilhante em todos os sentidos da palavra, ou, quem sabe, as mensagens e lições bonitas que são transmitidas… Enfim, poderia enumerar muitas mais razões, contudo nenhum destes aspetos são o que torna esta franquia verdadeiramente única. Consequentemente, venho hoje expor a razão do sabor amargo da saudade revelar-se sempre que concluo esta bela aventura, que se resume a três indivíduos e à sua amizade.
Como referi anteriormente, esta franquia acerta em vários aspetos, no entanto, não são esses que a tornam única, mas sim a relação de Harry, Ron e Hermione. De facto, não me ocorre outra saga em que somos levados a acompanhar três amigos durante todo o seu crescimento, desde a sua infância (1.º e 2.º filme), à adolescência (3.º e 4.º filme) e, finalmente, à sua fase pré-adulta (do 5.º ao 8.º filme). Para além da química fantástica entre os três atores e as personagens em si, acho que a grande razão para o sucesso desta jornada é a facilidade com que nos conseguimos identificar. Seja através da relação entre Harry e Ron, uma amizade típica masculina, que embora sofra alguns percalços, prevalece sempre mais forte do que nunca. Ou a amizade entre Harry e Hermione, que clarifica na perfeição a diferença entre uma relação de amizade e uma de amor, através de sequências verdadeiramente bonitas. Talvez tenha sido mesmo através do romance entre Ron e Hermione, um clássico caso em que os opostos se atraem, sendo construída pouco a pouco à medida de cada filme, tendo como base dos momentos mais engraçados e adoráveis da franquia, e que culmina no tão esperado beijo no último filme. Ora, mesmo alguém que não se identifique com nenhum destes casos, reviu-se, certamente, nos momentos da relação do trio como um todo que, pelo menos para mim, produzem uma sensação de conforto e familiaridade inigualável. A partir das gargalhadas, das cenas de investigação, das crises típicas da idade, das discussões e reconciliações e das peripécias de perigo, vemo-nos a ansiar por mais aventuras do icónico trio.
Se me permitem ser mais prático, considero que existem algumas ocasiões que servem como exemplos do quão estas amizades elevam o nível da história, principalmente no capítulo da emoção. Primeiramente, considero que o melhor exemplo é a sequência do baile no quarto filme, e toda a atmosfera à sua volta. E é aqui que encontramos os nossos protagonistas a passar pelos mesmos problemas e desafios que qualquer pessoa passou ou passa na sua adolescência: ansiedade social, trocas de humor esporádicas, ciúmes, momentos constrangedores e discussões perfeitamente evitáveis. Tudo isto cria uma proximidade única com o público, visto que de facto podia ser qualquer um de nós naquela situação. Outro exemplo é a cena no último filme, em que Harry percebe que tem de morrer a enfrentar Voldemort sozinho, despedindo-se de Hermione com um abraço clamoroso, e de Ron com um simples olhar, que na minha ótica trata-se de um olhar que vale mais do que mil palavras. Isto resulta em sermos completamente sobrecarregados pela emoção da cena e, em adição, no aumento significativo das paradas da batalha final. Atrevo-me até a dizer que o final da saga, protagonizado pelo trio habitual, primeiramente na ponte de Hogwarts (com uma bonita cena em que os três seguram as mãos), e posteriormente, num epílogo no qual vemos Harry, Ron e Hermione a levarem os seus filhos para a estação de comboio rumo a Hogwarts (que acaba com um fantástico plano de filmagem da cara dos três), trata-se de um dos finais mais emotivos já visto em qualquer saga, senão em qualquer produção. Não tenho quaisquer dúvidas que trouxe várias lágrimas ao rosto de milhares de fãs.
Bem, em boa verdade, a relação entre personagens sempre foi o meu aspeto preferido no que toca a cinema, logo esta opinião acaba por ser algo que parcial. Muito provavelmente, a maioria dos fãs venera Harry Potter pelo mundo mágico criado por J.K. Rowling, que pode ser (e é) explorado a fundo, bem para além dos livros e filmes. Todavia, para mim, Harry Potter será sempre a história de três amigos e uma magnífica amizade que serve como um porto seguro. É com esta frase clichê que termino, no fundo, aquilo que é um desabafo por me ter de despedir deste universo mais uma vez, do qual vou ter certamente saudades…
Texto escrito por Francisco Empis.