Estava numa longa e típica procura do filme certo para ver, quando, eventualmente, rendi-me à ideia de rever algo. Como estava na Amazon Prime, dei de caras com a franquia 007, e os filmes que me vieram imediatamente à cabeça foram os de Pierce Brosnan. Assim, aconcheguei-me, carreguei no play, e após ser baleado pelo agente secreto mais conhecido do mundo (quem percebeu percebeu), começou o filme “Goldeneye”… Tenho de admitir, já não me lembrava do quão gostava destes filmes.
Foi então que me surgiu a ideia de escrever este artigo: será Pierce Brosnan o melhor James Bond de sempre? Serão os seus filmes os melhores da Franchise? Bem, a uma destas questões posso já responder… Não, estes filmes não são definitivamente os melhores 007, no entanto, não significa que não possam ser os meus preferidos, por isso aqui está a minha análise desta era do icónico agente secreto. E sim, eu pensei em fazer uma crítica para cada um dos filmes, mas dado que são todos praticamente idênticos não me pareceu relevante.
Não é segredo para ninguém que todas as eras de James Bond são um produto do seu tempo, e nos finais dos anos noventa/início dos anos dois mil, a tendência era “Sci-Fi Action Thrillers”, em que conceitos como o realismo, desenvolvimento de personagem e aprofundamento não eram devidamente explorados. Em vez disso, somos presenteados com narrativas fáceis de seguir que se focam em cenas de ações épicas e criativas acompanhadas por uma trilha sonora icónica, assim como momentos de personagens que caracterizam na perfeição o protagonista, sendo a cereja no topo do bolo os hilariantes e clássicos “one liners”. Sinceramente, eu não só não me importo com esta abordagem mais superficial à franquia (quando comparada aos filmes mais recentes), como até prefiro. Chamem-me de básico ou ignorante, mas eu não estou exatamente à procura de um estudo de personagem ou de uma narrativa revolucionária em produções deste estilo.
Uma das características predominantes destas películas é o estilo “over the top”, que também habitual na época, consiste em ir para além do realismo para causar um efeito de choque/surpresa e de magnitude, no fundo, serve para impressionar a audiência. Esta opção, possibilitou momentos incríveis nesta série de filmes, como a perseguição de tanque nas ruas de Moscovo em “Goldeneye”, ou a perseguição de barco em Londres no filme “The World is not Enough”, e acima de tudo os inúmeros gadgets espetaculares. No geral, diria que este estilo maioritariamente beneficiou a quadrilogia, no sentido em que produziu sequências memoráveis, no entanto, o abuso deste recurso acabou por ser a perdição da era Brosnan… Apesar de todos estes pontos positivos, o meu aspeto favorito e o que me levou a escrever este artigo, é o papel de Pierce Brosnan como James Bond, que seguramente está entre os melhores castings de sempre. A classe, o charme e sobretudo o timing das falas… Os pontos estão todos nos is, isto é o James Bond.
Bem, não podia acabar esta análise sem falar de algumas coisas que não gostei tanto ou simplesmente achei engraçado mencionar. Primeiramente, considerando que a relação com mulheres nestes filmes é pouco orgânica, parece forçada e acaba mesmo por ser algo estranha, diria que apenas no filme “The World is not Enough” a relação de Bond consegue ser importante e útil para caracterizar o personagem (a sua lealdade ao país neste caso). Passando agora para um aspeto engraçado, que na verdade é mais uma pergunta, gostaria de chamar a atenção o facto de que o nosso protagonista, ao longo dos quatro filmes, sem exagero, tem mil balas direcionadas a ele enquanto completamente exposto, e nunca leva com nenhuma! Como é que é possível? Eu sei, eu sei… não é de todo relevante para uma análise, mas achei engraçado o suficiente para incluir.
Como referi anteriormente, o excesso do “over the top” acabou por ser a perdição desta era, mais concretamente no filme “Die Another Day” (em que existem palácios de gelo e carros invisíveis), que devido à sua má receção levou a que Pierce Brosnan fosse despedido do papel através de um telefonema. Um fim inglório de facto, mas provavelmente foi a melhor decisão, pois a fórmula já estava gasta e o público nos anos dois mil já pedia uma abordagem diferente. No entanto, a meu ver, Brosnan será sempre a melhor interpretação do personagem, e os seus filmes, embora não sejam os melhores, são, sem dúvida, os mais divertidos e explosivos.
Texto escrito por Francisco Empis.