The Substance é, no mínimo, uma tentativa de ser mais do que realmente consegue entregar. O filme tenta explorar a superficialidade das pressões estéticas impostas às mulheres, onde a beleza se converte na sua data de validade, e o nosso valor, no tempo que nos resta até envelhecer. Ainda que a premissa seja interessante e a construção visual seja apelativa, o resultado acaba por ser uma experiência unidimensional, excessiva e sem rumo – tudo fogo de vista. Tenta ser tudo e acaba por não ser nada.
Não me cativou desde o início, mas deixei-me levar pela possibilidade de eventualmente se tornar divertido. E foi-o, em momentos. Contudo, à medida que a narrativa progride, passa de um enredo fundamentado para uma espiral surreal cujo único propósito é causar choque. Pessoalmente, esse tipo de shock value não me conquista; e, embora eu goste de um bom uso de surrealismo no horror, aqui pareceu descabido e rapidamente se tornou numa insanidade forçada.
O ódio que a Matrix sente por si própria é elevado a um expoente máximo, e ver essa autodestruição gradual é intrigante – porém, a essência da mensagem fica esquecida. Voltamos a ela apenas no final, sem nenhuma nuance ou qualquer declaração real a fazer. A excruciante duração de duas horas e meia entrega-se, em vez disso, à exploração superficial da vaidade.
Talvez o final, de tão absurdo, nos convide a rir da futilidade da nossa conformidade com os padrões impostos pela sociedade. Mas, para mim, a mensagem perde o seu foco e a sua força, como uma mangueira solta, aos saltos no quintal, a jorrar sem direção enquanto espera ser agarrada (muito como a aberração). Queria gostar mais do filme, mas tornou-se enfadonho. O choque no ato de dotar o corpo humano de um sentido grotesco funciona bem no início, mas quando se fica por lá e não ultrapassa o nível da superfície durante quase 2 horas e meia, torna-se numa execução exaustiva que se vai arrastando vagarosamente para um final sem sabor, uma tentativa desesperada de perturbar o espectador.
Esta indústria parece constantemente em guerra consigo mesma – critica-se mas não larga os seus vícios e clichês. The Substance é mais um desses filmes que, de tão preocupados com a sua reflexão pretensiosa, se esquecem de explorar as possibilidades da própria premissa. No final, torna-se uma obra vazia, desesperada de atenção e com pouco a dizer.
Classificação: 2.5 em 5 estrelas. Texto escrito por Carlota Pais.