Crítica: No Other Land - Cinco estrelas por Jasmim Bettencourt - Cinema em Portugal

No Other Land – Um grito de um povo pela sua liberdade

5 estrelas Críticas

Masafer Yatta é um grupo de aldeias localizadas no sul da Cisjordânia, nos territórios ocupados da Palestina. Depois de uma decisão do Supremo Tribunal de Israel, este território passou a ser considerado como sendo propriedade do exército israelita. Assim, se iniciou um desumano processo de despejo das populações locais e destruição das suas casas, forçando-as ou a viver em cavernas nas montanhas da região ou a mudar-se para as cidades mais a norte. Basel Adra é um ativista palestino que nasceu e viveu numa destas aldeias e luta todos os dias para que o seu povo possa permanecer nas terras onde vive há gerações. Aliando-se a Yuval Abraham, um jornalista israelita dissidente, e um coletivo de cineastas israelo-palestino, constrói um filme que revela a realidade desoladora da agressão e ocupação israelita.

Com uma força e coragem impressionante, observamos a luta de Basel e do povo palestino na sua resistência contra uma agressão colonial que ameaça todos os dias. Observamos as pessoas enquanto prosseguem com as suas vidas numa normalidade frágil e observamos como acordam todos os dias a olhar para horizonte para ver se algum tanque ou jipe do exército israelita se aproximam e se serão os próximos a ficar sem casa. É uma impotência aterradora que se observa deste povo abandonado pelo mundo chamado de civilizado.

No entanto, também se observa a resistência que arde por baixo desta impotência, desde confrontos mais diretos tanto com o exército como com colonos, até gestos mais subtis mas não menos fortes. Observa-se a história desta comunidade que resiste, como por exemplo o edifício da escola local, que foi construído às escondidas durante várias noites. Este é um retrato belíssimo de um povo que resiste à agressão colonial que se entranha no nosso âmago e é impossível não se sentir uma revolta contra o que se observa ao mesmo que se sente inspiração destes homens e mulheres.

Para além disso, ao longo do filme também se vai conhecendo os dois protagonistas centrais deste documentário: o ativista palestino e o jornalista israelita. A sua relação vai se desenvolvendo ao longo do tempo e a forma como esta é observada é absolutamente fascinante. Por um lado, o ativista palestino, filho do dono de uma bomba de gasolina que vê a sua terra natal cada vez mais atacada pelo estado israelita e, por outro, o jornalista dissidente que odeia o seu estado, mas que não pode evitar o seu privilégio perante as pessoas de quem ele está a escrever, podendo circular livremente tanto pelo território israelita como pelo território ocupado palestino e podendo voltar a uma casa segura ao fim de cada dia. É este conflito de condições materiais, esta reflexão e este questionamento que tornam este documentário verdadeiramente fascinante e não somente mais uma documentação da miséria de um povo.

Tendo a maior parte deste documentário sido produzido antes da atual guerra que Israel inflige ao povo palestino, este não poderia ser um documentário mais pertinente. É um documentário que grita pela humanidade de um povo em constante desumanização e é um documentário que fervilha com a sua força resistente. Dá-nos a conhecer diversas destas pessoas que veem a sua vida ameaçada diariamente, dá-nos a conhecer as suas angústias e os seus sonhos, e dá-nos a conhecer a sua força. É um grito de um povo pela sua liberdade impossível de ignorar.

O filme está disponível em exclusivo na Filmin.

Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.

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