Realizador António Mantas Moura à conversa com André Marques do Cinema em Portugal. © Fotografia de Afonso Castella

António Mantas Moura e a sua “Chuva de Verão”

Cinema Português Entrevistas

© Fotografia de Afonso Castella

O Cinema em Portugal esteve à conversa com o realizador e argumentista António Mantas Moura, do filme português “Chuva de Verão“, na antestreia do mesmo no Cinema São Jorge em Lisboa. O filme marca a sua primeira longa-metragem e encontra-se em exibição nas salas de cinema portuguesas.

Cinema em Portugal: A história de “Chuva de Verão” foca-se em relacionamentos de jovens adultos ao longo de uma semana num Verão. O que te atraiu nesta temática?

António Mantas Moura: Esta é a minha primeira longa-metragem, eu fiz curtas, mas isto é sempre outra coisa, e ao entrar no mundo das longas eu sabia que não podia ser extremamente ambicioso, sabia que quando pudesse fazer o filme não ia ter acesso a um grande budget. Portanto foi dentro do que eu podia e joguei com a minha vivência e com o que eu conheço. Este filme é a minha experiência. A inspiração veio do meu Verão com os meus amigos, o meu próprio grupo de amigos. Eu cresci em Lisboa mas passava férias em Vila Nova de Milfontes. A minha mãe, que é produtora, a família dela é de Odemira, que é muito perto de Vila Nova de Milfontes. Portanto, a grande inspiração para este filme foram as minhas próprias vivências e os meus próprios verões. Obviamente, o enquadramento depois da história e da trama não foi uma coisa que me aconteceu, nem a mim nem aos meus amigos.

Acho que obviamente qualquer criador, eu não gosto da palavra artista, mas qualquer artista tira de si coisas. O que nós escrevemos não vem do nada. Obviamente que eu inspiro-me, obviamente que tem coisas dos meus amigos, mas também tem coisas de pessoas de outros grupos de amigos que eu observei ao longo da minha vida. Tem pessoas que eu conheci, situações engraçadas ou não, que eu fui vendo. Tem muito disto, mas obviamente que muito do que está ali no filme também é a minha vivência, não pelo sítio, mas acho que também o filme tem este lado do quebrar da inocência e quando aqui qualquer coisa que é mais difícil num grupo de amigos, nós vemos os nossos amigos finalmente de uma maneira que não é tão inocente. Percebemos que todos nós temos defeitos, todos nós temos problemas. aqui uns que têm mais afinidade com uns ou com outros, e outros que não tanto. As pessoas têm as suas discussões, as suas polaridades, etc., e este grupo de amigos fica muito polarizado. Portanto, obviamente que eu acho que com o passar dos anos fui-me apercebendo que talvez as nossas amizades também não são ideais, nem deviam ser. Nós somos todos humanos e não é porque eu cresci com certas pessoas a minha vida inteira, que nós não nos vamos afastar a dada altura da minha vida e que não nos vamos depois reencontrar. E isso acontece muito. Acho que acontece a toda a gente e acho que isso também é o que de universalidade o filme tem, apesar de ser um filme muito jovem.

Cinema em Portugal: Dirias que é um filme coming of age?

António Mantas Moura: De certa forma é um coming of age, no sentido em que vemos este quebrar aqui de uma inocência de um grupo de amigos que também estão, na verdade, a crescer. Estão a aprender novas coisas sobre a vida, sobre a amizade, sobre relações.

Cinema em Portugal: O que é que achas que o público pode esperar deste filme ou o que pode encontrar neste filme, que não encontra noutro?

António Mantas Moura: Eu acho que a primeira coisa é o nosso elenco. Eu, de facto, estou super orgulhoso deles porque acho que eles, para além de estarem extremamente bem no filme, sente-se no filme que eles têm uma empatia real. Acho que nestes filmes, às vezes, é muito difícil sentir-se que eles podiam ser de facto um grupo de amigos, que eles são de facto amigos e acho que, vendo este filme, ninguém pode ficar com dúvidas em relação a isso. aqui uma empatia. Pronto, obviamente que depois é a narrativa da história, há uns que estão mais próximos que outros, mas há de facto aqui qualquer coisa que os une que é verdadeira, porque de facto nós todos ficámos bastante amigos. Mas eu acho que isso se sente no filme e é muito bonito.

Damos também muita importância à paisagem e ao Alentejo, que, curiosamente, acho que não se muito em filmes portugueses, especialmente esta parte do Alentejo, a costa do Alentejo e os sítios onde nós filmámos. É curioso, porque Portugal é tão pequeno. Em filmes portugueses normalmente são filmados no Norte, no Douro, e acho que tem um lado diferente. Tem aqui um lado de praia, tem um lado da costa.

Eu acho que, sinceramente, obviamente que a minha ideia para este filme foi sempre ter um lado autoral e ter um lado artístico, obviamente um cuidado, um cunho pessoal, mas a minha ideia foi sempre fazer uma coisa, eu odeio esta palavra, comercial, mas uma coisa que fosse mais ao encontro do público e que fosse mais acessível, porque eu, honestamente, vejo de tudo, gosto de ver todo o tipo de cinema e acho que todo o tipo de cinema deve ser feito. Mas, acho que o cinema português, na sua maior parte, é um cinema de muito difícil acesso para o público geral. Acho que é difícil ir ao encontro do cinema português. Acho que as pessoas sentem isso, muito preconceito contra o cinema português. Portanto, eu queria fazer uma coisa que também não perdesse completamente o público nas minhas divagações e nas minhas ideias, e que também fosse um encontro das pessoas. O filme é super português apesar de eu morar nos Estados Unidos e trago muita coisa americana. Mas eu sou português.

Cinema em Portugal: Qual foi o maior desafio de realizar e escrever a tua primeira longa-metragem?

António Mantas Moura: Este filme para mim foi um workshop sobre o que fazer e o que não fazer em Cinema. Aprendi muito a fazer este filme. Eu estou nisto muitos anos, na verdade. Eu fiz a minha licenciatura em Paris, na Sorbonne, e comecei aqui nos Caminhos do Cinema Português, a fazer um workshop em Coimbra com 15 anos. Portanto, o cinema é uma paixão minha de há muito tempo e não sou provavelmente novo nisto, mas acho que, obviamente, fazer uma longa é sempre outra coisa, é outro monstro para agarrar e aprendi imenso a fazer este filme. Sinceramente, eu sinto-me super confiante no meu trabalho enquanto realizador. Eu sou uma pessoa que gosta de mexer um bocadinho em tudo. Sou um bocadinho de perfecionista e gosto de ter a minha mão em tudo o que acontece neste projeto, em várias áreas, mas acho que o meu maior desafio neste filme foi produzi-lo também, porque eu também o tive que produzir ao lado da minha mãe e do meu irmão, que são os produtores também do filme através da Blue Boy Pictures, que nós criámos para este filme e agora, obviamente para a frente, fazer mais projectos. Mas pronto, o início da Blue Boy Pictures foi para este filme, e isso para mim foi de facto a parte mais desafiante, porque eu estou muito seguro do que faço enquanto guionista, enquanto realizador, nos meus inputs em fotografia, em guarda-roupa, em arte. Eu tinha produzido, mas produzir uma longa… As pessoas não têm ideia do que é fazer um filme, é muito cansativo, é muito difícil, muita coisa a correr mal. Isto é que é a verdadeira resposta à tua pergunta, é lidar com os contratempos, porque vão acontecer coisas que as pessoas nem imaginam. Nós tivemos geradores a variar. Nós filmámos no Verão em Portugal, onde normalmente está sempre bom tempo, mas tivémos tempestades, choveu. Temos atores que ficam doentes de repente, temos alguém que não pode vir, os desafios diários são muito difíceis, e quando somos uma equipa pequena, nós éramos 40 mais ou menos, mas na produção éramos 3 ou 4 a gerir isto tudo. Eu acho que dormi um total de uma média de 3 horas por dia durante o mês inteiro que estivémos a filmar. Foi muito cansativo, mas, se me perguntas, no dia seguinte a termos acabado de filmar voltava a fazer outro? Voltava.

Cinema em Portugal: Qual é o objectivo para o futuro da tua carreira e da Blue Boy Pictures?

António Mantas Moura: Obviamente é sempre poder fazer maior, fazer mais e internacionalizar mais, porque sinto que a minha missão na minha carreira é mostrar Portugal, atrair as pessoas para Portugal, mostrar que nós somos um país lindíssimo, que temos sítios lindos para filmar e temos histórias maravilhosas para as pessoas verem.

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