O que desperta e arrebata nas viagens espaço-tempo tem de ser maior do que essas viagens… Pode ser uma vida em risco, uma urgência de uma personagem, enfim, por aí fora. Jogar com o suspense de dois irmãos fugitivos e as tentativas de reatar laços pode ser considerado um lugar-comum mas, se bem articulado, funciona, sobretudo enleado no Terror Sobrenatural.
Refletida no desespero desalinhado de uma espera, a obra ganha uma força renovada que passa de um estilo quase-cómico a um tenebroso-de-roer-as-unhas sem se tratar de um avanço imaturo ou inconsequente. Espera-se uma intrusão num mundo de que pouco ou nada se sabe e, com o passar do tempo, os protagonistas apresentam dúvidas mesmo sobre a hipótese da intrusão. Alerta absurdo (levemente) Lynchiano e mistérios que pairam nas meias-palavras de diálogos codificados e, por vezes até, secos.
Things Will Be Different assume as metamorfoses típicas de um enredo que implica viajar por dimensões / espaço-tempo, sem se deixar cair nas armadilhas costumeiras das “asas de uma borboleta” ou de um “diálogo de uma personagem consigo mesma” (aqui não há o “eu sou tu e não há muito tempo”). Em suma, a trama familiar adota a multidimensionalidade sem a estragar e aferindo as camadas de mistério e drama à intriga sem perder o rasto a si mesma.
Texto escrito por Manuel Seatra. O filme aqui abordado faz parte da programação da 18ª edição do MOTELX.