Antes de mais, para as duas ou três pessoas que me acompanham, reparem que os meus últimos três textos são, respetivamente, Sozinho em Casa, Super-Homem e, como o título indica, High School Musical… É seguro dizer que as minhas esperanças como um crítico sério e respeitado acabaram de ir por água abaixo.
Recentemente, e não me perguntem como, deparei-me na minha “for you“ do TikTok com um vídeo da reunião de Demi Lovato com os Jonas Brothers, no qual cantaram os maiores êxitos dos filmes Camp Rock. Digamos que a música não me foi totalmente indiferente e despertou-me a curiosidade para revisitar estes filmes e, subsequentemente, o tema deste artigo: a trilogia High School Musical. Optei por me limitar a High School Musical, não por não ter gostado de Camp Rock – muito pelo contrário – mas porque o que me motivou a escrever este artigo foi, de facto, esta saga. Na verdade, este comentário nasceu da vontade de partilhar as músicas que mais gostei e o porquê. Todavia, num sentido mais profissional, venho hoje falar sobre a visão otimista destes filmes, assim como das mensagens importantes que transmitem, enquanto realço também a forma como refletem a diferença geracional e as suas consequências.
Não é segredo para ninguém que este género de filmes é caracterizado por diálogos pouco orgânicos e risíveis, momentos tão clichês e caricatos que roçam o constrangedor e argumentos nem sempre muito bem conseguidos (acho que mereço algum tipo de reconhecimento após me ter desviado de tantos estrangeirismos possíveis para esta explicação). Bem, hoje não estou aqui para desmentir qualquer uma destas suposições, até porque concordo em grande parte, no entanto, há algo sobre estes filmes, não sei bem explicar o quê, que grita otimismo, satisfação e conforto. Não sei se é o tom ligeiro e divertido, ou as coreografias (ainda que, por vezes, excessivamente longas) animadas, ou as músicas que ficam no ouvido, ou o facto de acabar sempre tudo bem, mas algum elemento aqui faz-me sentir bem e dá-me uma visão otimista da minha vida, o que acaba por ser contraditório. Passo a explicar, acho que parte do grande sucesso desta trilogia, na geração em que saiu, foi a visão utópica do secundário que deu às crianças e pré-adolescentes da época. Ora, eu não sou uma criança e, infelizmente, também já não estou no secundário e, no entanto, estes filmes ainda me deixam com tal sensação. Talvez isto se deva ao facto de esta trilogia cumprir a tarefa que eu mais valorizo numa história, a relação de personagens. Entreguem-me a narrativa mais fraca e genérica, o diálogo mais robótico e as piores personagens, mas se houver uma relação romântica minimamente convincente ou, em qualquer momento, no menor detalhe, relacionável, eu estou imediatamente investido. Mais uma vez, não sei porquê, o que, aliás, já é o lema deste texto. Mas, visto que estamos a falar de um homem crescido a discutir High School Musical, acho que esta é a abordagem que melhor me deixa na fotografia… Isto tudo para dizer que, sim, Troy e Gabriella mexeram comigo (Gotta Go My Own Way foi devastador), e irei proceder a adicionar todos os seus duetos à minha playlist.

Aprofundando um pouco ao nível das mensagens transmitidas nestas películas, de facto, é possível retirar algo de interessante de cada uma delas. High School Musical (2006) – Não estamos presos a uma vocação e não nos devemos reger por aquilo que os outros pensam. High School Musical 2 (2007) – De que serve subir na vida se, no caminho, afastamos as pessoas que nos são mais queridas. High School Musical 3: Senior Year (2008) – Nós controlamos o nosso futuro e nunca é tarde demais para mudar de ideias (eu sei, eu sei, muito cliché, mas este não me deu muita margem de manobra, acreditem). Tudo isto são mensagens ou lições que, à primeira vista, parecem-nos genéricas e simplistas, quase como frases de Facebook. Contudo, sou da opinião que, se as tentarmos aplicar em certos aspetos e situações da nossa vida, podem vir a ser úteis e, quem sabe, inspiradoras. O que me leva ao meu próximo ponto, a diferença geracional e o porquê de estes filmes não poderem ser replicados na geração atual. Como referi no início, e agora recorrendo a todos os estrangeirismos à minha disposição, estes filmes são “corny”, “cheesy”, “cliché”, “goofy” e, como a geração atual os descreveria, “cringe”. Algo que não era um problema há anos atrás, devido à inocência das crianças na época, e bem, não é suposto uma criança de 10/12 anos saber identificar e perceber estes termos. Acontece que, hoje em dia, devido à exposição precoce das crianças às redes sociais e à internet de forma geral, filmes como este são catalogados como “uncool” e infantis. Ou seja, mensagens importantes e úteis são substituídas por horas de “scroll”. Parece que, cada vez mais, as crianças ganham maturidade depressa demais no que não devem, e onde interessa demoram mais a adquiri-la… Acho que sou capaz de ter aprofundado demais, afinal isto ainda é um artigo sobre High School Musical.
Embora não pareça, isto trata-se de um artigo de cinema, por isso, intelectuais, preparem-se para uma avaliação mais técnica, observador, aqui vou eu! O primeiro filme, de um ponto de vista objetivo, é, sem dúvida, o melhor da franquia. Apesar da curta duração, equilibra na perfeição uma banda sonora competente e viciante, com uma narrativa coerente e estruturada, tendo tempo ainda para construir relações credíveis e emocionais. É o único filme do género que preenche todos estes requisitos. Em High School Musical 2, o mesmo não se repete. Há uma priorização da banda sonora, com mais músicas no catálogo, mas à custa da coerência narrativa. Mesmo com uma maior duração, tal resulta em momentos importantes da história a acontecer off-screen, sem qualquer explicação. É um caso em que o filme dita a narrativa e não o contrário, como seria suposto. Por exemplo, após Gotta Go My Own Way, para o desgosto do público, Gabriella acaba com Troy e parte; contudo, no ato final volta e canta sem aparente motivo ou explicação, apenas para cumprir o final feliz que o filme procura. Ou seja, a narrativa está refém da música em vez da música servir a narrativa, como acontece no original. No terceiro filme, já se nota alguma fadiga na franquia. A banda sonora perde alguma qualidade e é repetida múltiplas vezes ao longo do filme; a narrativa, embora não tão desfalcada como no seu antecessor, é magra no seu conteúdo. O filme só se foca realmente num ponto: a relação de Troy e Gabriella , e tudo o resto é algo secundarizado e resolvido da forma mais curta possível, revelando uma falta de ideias. Não me interpretem mal, não é de todo um final que borre a pintura, mas, de facto, não eleva a trilogia a outro patamar e não passa de uma conclusão segura e satisfatória. Não me querendo repetir, a grande valia desta franquia, para além do óbvio (a música) acaba por ser a relação de Troy e Gabriella que, suportada por uma química muito forte entre Vanessa Hudgens e Zac Efron, é o fio condutor desta história. E, julgando pela minha breve pesquisa no TikTok, marcou realmente uma geração.
Para concluir, cumpro então o propósito original do artigo: as minhas músicas favoritas. Menções honrosas para Back to the Top, You Are the Music in Me, Everyday e We’re All in This Together, mas o meu pódio é composto, sem ordem específica, por Breaking Free, Status Quo e Gotta Go My Own Way. Aproveito também para deixar uma última mensagem, na qual realço a importância de nem sempre termos de assistir a obras-primas do cinema. Ver estes filmes mais ligeiros é uma boa forma de descontrair e de nos entretermos, sem estarmos a martirizar-nos para chegar ao significado confuso e profundo da mensagem que o realizador quer passar. Dito isto, deve-se manter o meio termo, pelo que fica aqui prometido que a minha próxima crítica vai ser de um filme de Hitchcock…
Texto escrito por Francisco Empis.
