A Pianista mergulha nas profundezas do luto, confrontando-nos com a incapacidade de aceitar a morte numa era onde a tecnologia promete soluções para todos os problemas. Nuno Bernardo constrói um drama psicológico que se alimenta de silêncios e espaços por preencher, transformando a paisagem rural numa extensão do estado mental da protagonista.
O filme propõe a ideia de que, num futuro próximo, será possível contornar a inevitabilidade da morte, utilizando esta premissa como catalisador para uma exploração sobre identidade e substituição. A proposta tecnológica de “recuperar” um ente querido e as implicações que essa possibilidade acarreta.
A narrativa acompanha Ana (Teresa Tavares), uma ex-pianista que vive dias de luto e solidão com o seu filho (Gonçalo Almeida), isolada numa herdade após a morte do marido, Jorge (Miguel Borges). Durante o seu processo de luto, é contactada por uma empresa de clonagem que afirma ser capaz de trazer o seu marido de volta. Apesar da reticência inicial, Ana acaba por aceitar a proposta.
A tensão intensifica-se quando se levantam indícios de que Jorge escondia aspetos sombrios da sua personalidade. Com o seu regresso a casa, a família vê-se forçada a desenterrar segredos obscuros que permaneciam enterrados.
Este é um daqueles filmes em que o espectador permanece na incerteza sobre o que realmente está a acontecer até muito perto do desfecho. A obra revela-se bastante competente em manter a curiosidade do público em relação ao seu desenlace e em construir, desde os primeiros momentos, uma atmosfera de tensão. Nota-se uma tentativa deliberada de experimentar elementos que funcionaram eficazmente em produções internacionais, embora por vezes estes sejam inseridos em momentos que se tornam ligeiramente confusos tendo em conta a narrativa global.
A reviravolta que o filme apresenta é bastante interessante e consegue surpreender o espectador. No entanto, o desfecho revela-se pouco claro e aparentemente apressado. Fica a sensação de que a conclusão da história permanece deliberadamente em aberto, deixando-nos sem respostas concretas para as questões que foram levantadas ao longo do filme.
Esta ambiguidade final, embora possa ser interpretada como uma escolha artística para estimular a interpretação do público, acaba por frustrar quem procura um encerramento mais definitivo. O filme levanta teorias e mistérios que, no final, não encontram uma resolução concreta.
De modo geral, A Pianista revela-se uma obra ambiciosa que consegue construir uma atmosfera envolvente e manter o espectador em suspense até ao final. Embora o desfecho em aberto possa frustrar quem procura respostas definitivas, o filme de Nuno Bernardo desperta curiosidade em relação a projetos futuros, oferecendo uma experiência cinematográfica que convida à reflexão, mesmo quando deixa algumas questões por resolver.
Classificação: 3.5 em 5 estrelas. Texto escrito por Duarte Cardoso.