Stills dos filmes 'Her Will Be Done', 'Buzzheart' e 'Anything That Moves'

‘Her Will Be Done’, ‘Buzzheart’ e ‘Anything That Moves’ / 3 críticas MOTELX

2 estrelas 3 estrelas 4 estrelas Críticas MotelX
Imagem/still do filme 'Her Will Be Done'
Imagem/still do filme ‘Her Will Be Done’

Her Will Be Done: Bruxaria como manifestação do desejo feminino e migrante

Numa pequena vila na província francesa, uma família polaca tenta integrar-se na cultura que a rodeia. No entanto, um passado sombrio assombra-os. Enquanto o seu pai e os seus irmãos parecem ter deixado este passado e assimilado com facilidade, algo atormenta o coração de Nawojka. Quando a jovem e rebelde Sandra, que tinha abandonado a vila para a grande cidade, volta, esta tormenta interna torna-se ainda mais insuportável. A bruxaria sempre foi um tema usado pelo cinema feminista como forma de explorar o desejo feminino e a sua luta contra o domínio patriarcal. Em Her Will Be Done, Julia Kowalski expande este conceito para englobar também a sua experiência como imigrante mulher e convidar-nos a refletir sobre o conflito associado à assimilação do imigrante na cultura em que se encontra.

Elevado pela interpretação perturbadora de Maria Wróbel, encontramos aqui um terror social que encontra o subtilmente obscuro por trás da vida do campo, seja em fungos misteriosos que ameaçam a quinta da família de Nawojka, seja nas intrigas mesquinhas de um local pequeno. Kowalski lentamente submerge-nos neste ambiente opressivo dominado pelo masculino ao mesmo tempo que nos faz sentir o palpitar do desejo feminino que arde por baixo desta paisagem enlameada e fria. Os elementos de terror aqui são subtis, sendo que muito do filme é passado no mundano da vida de campo, mas não são menos eficazes, surgindo como manifestações deste desejo feminino que arde silenciosamente – aumentando até a fogueira se tornar num incêndio.

Apesar disto, penso que o incêndio pudesse ter sido mais forte e chegado mais longe, parecendo que Kowalski se refreou no fim, fazendo com que este filme não alcançasse o potencial que poderia ter tido e se tornado um filme mais notável. No entanto, continua a entrar dentro de nós com a sua atmosfera irrequieta e a destacar-se pela sua reflexão tanto sobre a experiência feminina como a experiência imigrante.

Classificação: 3 em 5 estrelas

Imagem/still do filme 'Buzzheart'
Imagem/still do filme ‘Buzzheart’

Buzzheart: Um thriller psicológico competente mas previsível

Quando Argyris conhece Mary numa clínica de massagens, ele apaixona-se imediatamente. Quando ela o convida a passar um fim de semana com os seus pais, ele aceita. Previsivelmente, há algo de muito errado nos pais dela. Submetendo-o a testes psicológicos cada vez mais intensos, Argyris encontra-se na condição de rato de laboratório destes pais psicóticos. Usando o cenário modernista da casa dos pais de Mary a seu favor, Dennis Iliadis cria uma atmosfera claustrofóbica que nos transporta para a mente de Argyris. Tudo e todos se tornam fontes de ameaça neste jogo psicológico em que ele se encontra.

Este não é um thriller psicológico que trás nada de novo, sendo uma espécie de versão inferior de Get Out, mas no entanto é competente no que se propõe a fazer. É o tipo de filme que se vê pelos thrills mas que não tem muito a puxar-nos ou que fique particularmente com o espectador para além do conceito, cujo desenrolar é previsível desde o início.

Classificação: 2 em 5 estrelas

Imagem/still do filme 'Anything That Moves'
Imagem/still do filme ‘Anything That Moves’

Anything That Moves: Um slasher em que a sexualidade livre vence

Liam é um trabalhador sexual em Chicago que entrega ao domicílio sanduíches e sexo. Vivendo uma vida de hedonismo, que, no entanto, é assombrada pelas imperfeições do próprio corpo, rapidamente encontra-se na mira de um assassino em série que começa a matar os seus clientes. Filmado com película 16mm hipnotizante, este filme é uma celebração da sexualidade livre que transborda de amor pela arte do cinema, não tendo medo de chafurdar no camp e no erótico. Jogando com elementos de slasher e thriller erótico, Alex Phillips constrói uma visão transgressiva e irreverentemente queer que re-apropria a estética destes filmes para construir uma nova leitura da relação entre sexo e violência, sendo que aqui a sexualidade livre sai vitoriosa.

O mais bem sucedido neste filme é a forma como o filme nos envolve na sua estética algo artesanal, utilizando o material da película no seu potencial máximo, quase como se o espectador fosse transportado para um sonho molhado assombrado por um pesadelo violento da repressão sexual que assola a sociedade. Em diversos momentos, a montagem faz o filme transcender para um estágio de alucinação, realçado pelo uso de cores garridas e jogos de luzes e sombras. É impossível não ficar hipnotizado.

Em Anything That Moves, Alex Phillips celebra a história do cinema de género ao mesmo tempo que se apropria dos seus elementos para criar o seu cinema transgressivo, sem freios na sua visão sobre sexualidade e repressão e na sua estética. No final, Phillips convida-nos a atingir um verdadeiro clímax – em mais níveis do que um.

Classificação: 4 em 5 estrelas

Textos de Jasmim Bettencourt.

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