Crítica: La Pampa / Duas estrelas por M. Filipe

La Pampa – 26ª Festa do Cinema Francês

2 estrelas Cannes Críticas Festa do Cinema Francês

Numa aldeia francesa na região de Maine-et-Loire, Jojo (Sayyid El Alami) e Willy (Amaury Fouche), amigos inseparáveis desde os tempos de meninice, passam grande parte do seu tempo na pista de motocross local denominada “La Pampa”. Prestes a concluir o ensino secundário, nenhum dos dois tem grandes ambições académicas, preferindo focar toda a sua energia e tempo nos treinos para competições de motocross regionais. Jojo conduz e Willy é o mecânico de serviço, e ambos são guiados por David (Damien Bonnard), pai de Jojo, que nunca atingiu o sucesso na sua carreira desportiva que ambicionava. Ainda mais ambicioso que o próprio filho, David nunca está satisfeito com as vitórias do seu filho. Os seus treinos rigorosos e intensos, nunca são acompanhados de momentos de diálogo aberto e honesto com nenhum membro da equipa. Esta falta de cumplicidade entre pai e filho, leva a que a amizade com Willy seja ainda mais potente a nível emocional, com a lealdade entre ambos os jovens a assumir um caráter deveras feroz. Quando Willy descobre que Jojo tem mantido uma relação secreta com Teddy (Artur Solaro), um membro da equipa mais velho e casado, o jovem promete guardar o segredo do amigo. No entanto, após um contratempo inesperado, tanto a aldeia descobre esta relação queer clandestina. A reação hostil e homofóbica da comunidade local, irá alterar o rumo das vidas de Jojo e Willy irreversivelmente.

Seleccionado para a Semana da Crítica, do Festival de Cannes do presente ano, a longa-metragem La Pampa é um filme que pretende apresentar um retrato mais honesto e cândido das comunidades rurais que existem na periferia dos grandes centros urbanos de França, e evitar o uso de clichés e estereótipos na caracterização da população. O filme consegue, em alguns momentos, cumprir esta missão nobre, mas, por outro lado, esbarra em ideias gastas, enredos retrógrados e sub tramas mal nutridas no que toca à sua narrativa coming-of-age de vertente queer.

O prólogo consegue estabelecer rapidamente e de forma eficaz, a posição que Willy e Jojo ocupam no seio familiar. Constantemente ausentes e a dar dores de cabeça aos progenitores, mas sempre nutrindo uma imensa afeição pelas matriarcas das suas famílias. Mas após esses primeiros minutos as vidas familiares de ambos os personagens nunca são devidamente aprofundadas; sendo a caracterização das mães de ambos os protagonistas especialmente diminuta. A sua existência não vai além dos estereótipos de mães atarefadas, sempre em movimento e sempre a ralhar com as suas crias. Assim sendo, até mesmo uma cena de confronto crucial entre Jojo e a mãe, não consegue ter grande peso emocional na trama ou suscitar qualquer emoção no espectador para além da exasperação. Igualmente repreensível é a representação da juventude queer numa comunidade rural moderna, que se revela muito antiquada, limitada e pouco verossímil.

Felizmente o filme é salvo em grande parte pelas ótimas interpretações dos jovens atores do seu elenco, destacando-se a impecável forma como El Alami representa o caráter mercurial de Willy. A mise-en-scène de Chevrollier também merece ser realçada, especialmente pela forma como consegue fazer com que a pista de motocross, outrora um espaço de libertação, passe a ser uma gaiola dourada.

Chevrollier assina uma primeira obra com uma energia, vivacidade e sinceridade assinaláveis. Mas infelizmente, mesmo com uma ótima direção de atores, um argumento fraco com personagens secundários sem grande espessura impedem o filme de atingir picos artísticos mais elevados.

La Pampa faz parte da programação da 26ª edição da Festa do Cinema Francês, estando presente na secção competitiva da mesma. A Festa do Cinema Francês ocorre em várias cidades do país, ao longo do mês de outubro. Para mais informações visite o site: festadocinemafrances.com.

Classificação: 2 em 5 estrelas. Texto escrito por M. Filipe.

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