O Lugar dos Sonhos é a carta de amor do Diogo Morgado à sétima arte, que apesar das suas limitações, continua a missão do realizador e argumentista em impactar a forma como o cinema nacional é visto pelos portugueses.
O filme conta-nos a história do João, o típico jovem que vive no seu próprio mundo, demasiado focado na tecnologia à sua volta, quer seja videojogos ou redes sociais. Até ao dia em que vai visitar o seu avô, que é dono de uma loja que parece um videoclube, mas é muito mais do que isso, e descobre a magia do cinema. Apesar da mudança no João estar bem representada, deixa espaço para o público refletir, é um bocado abrupta demais. Num minuto ele está a viver a vida como se fosse um videojogo, que apesar de ser engraçado é levado ao exagero, e no outro o modo videojogo é desligado e entra o modo cinema. Não é algo que estrague o filme, a narrativa está bem construída, apelativa e divertida, mas é algo que podia ter enriquecido o filme.
Por falar em modo cinema, este resulta em montagens de cenas icónicas, de filmes icónicos. A que resulta melhor é uma referência ao Star Wars porque eleva o que está a acontecer entre as personagens, apesar da falta de dinamismo que todas estas referências têm. Quando não há recursos para se fazer algo é preciso perceber as limitações e ser-se criativo com as ferramentas que se tem. Há uma sequência em que o João está a imaginar que é o Fred Astair no Singing in the Rain, mas não dança como ele. Sinceramente, nem uma pequena coreografia foram capazes de criar para esta cena. Se não conseguem dedicar o tempo necessário para cada quadro brilhar, era preferível fazer menos. Mais uma vez, não prejudica muito o filme, mas não o deixa brilhar como podia ter brilhado.
Quem acaba por carregar este filme é o ator Carlos Areia que interpreta o avô Júlio, o coração deste filme. O amor e entusiasmo pelos filmes que ele traz para a personagem é o que nos deixa agarrados e nos faz querer saber qual será o futuro do seu lugar dos sonhos. A apoiá-lo está o grande Guilherme Filipe que apesar de aparecer pouco, tem sempre uma presença enorme e domina todas as cenas em que entra.
Diogo Morgado continua a sua missão de americanizar o cinema português, que mal não lhe faz, e O Lugar dos Sonhos é o primeiro vislumbre de que esse sonho é alcançável.
Classificação: 3 em 5 estrelas. Texto escrito por Arknel Marques.
