Para uma saga de filmes manter-se relevante após um elevado número e várias reinveções, é sempre um grande desafio, e trata-se de algo que Gritos tem explorado em ultrapassar, procurando introduzir elementos novos, mas sem nunca comprometer o legado do original.
Após um quinto filme bem-sucedido, a dupla Tyler Gillett e Matt Bettinelli-Olpin volta a assumir as rédeas para um filme que propõe subverter expectativas e convenções do género, do primeiro ao último minuto. Até agora, Woodsboro era um local icónico e indissociável desta série de filmes, mas, desta vez, houve uma decisão de localizar a história em Nova Iorque, o que oferece novas possibilidades e ajuda a atribuir um ar diferenciado dos outros filmes da saga.
Embora a película entregue os elementos esperados, como a chamada telefónica na cena de abertura, o meta-comentário sobre o cinema de terror e os esfaqueamentos, a sua missão acaba por ser revolucionar e brincar com esses elementos, sendo de destacar a criatividade disruptiva de várias sequências. Os realizadores demonstram uma enorme promessa em criar tensão e choque, aproveitando as ruas e as particularidades de Nova Iorque para nos presentear com novas abordagens aos ataques de Ghostface. Algo que distingue um pouco este dos outros filmes é a brutalidade dos assassinatos. Este Ghostface revela-se uma ameaça mais credível, não entrando tanto na vertente mais galhofa.
No que diz respeito ao desenvolvimento de personagens, estes novos filmes procuram estabelecer Sam, Tara, Mindy e Chad como o chamado “core four”. Sam tem um conflito interno que a torna uma protagonista bem mais intrigante que Sidney Prescott, mas a atriz Melissa Barrera continua a estar muito aquém do que é exigido, sendo inexpressiva e pouco convincente. A relação entre Sam e Tara é um dos pontos altos deste filme, sendo que Jenna Ortega é, de longe, a melhor performance no filme, carregando a complexidade do que a sua personagem está a viver após os acontecimentos do filme anterior. Já os gémeos Mindy (Jasmin Savoy Brown) e Chad (Mason Gooding) continuam a não se destacar. Mindy é um dispositivo de exposição que apenas serve para estabelecer o comentário meta, mas como personagem é vazia e soa demasiado insensível para com tudo o que está a acontecer, enquanto Chad é igualmente desinteressante e torna-se parte integrante de um romance altamente forçado.
O filme conta ainda com o aguardado regresso de Kirby (Hayden Panettiere), destaque de “Gritos 4“, mas que não satisfaz expetativas. O rumo dado à personagem é desinteressante, e a atriz parece totalmente perdida. Também conta com Gale Weathers (Courtney Cox), a única personagem do original a regressar, que também não tem muito espaço nesta história, mas tem direito a uma sequência de cortar a respiração, que reconhece a importância da personagem. Destaca-se ainda pela negativa Dermot Mulroney no papel de Wayne Bailey, o polícia encarregado de investigar o caso.
Num filme como este, não faz sentido exigir realismo, mas é importante que o filme consiga estabelecer um universo próprio com as suas próprias regras, para que o espectador sinta algum peso nas consequências e tema pelo que possa acontecer. Devido a algumas decisões dos guionistas, a lógica interna acaba por ser quebrada em várias situações, enveredando por situações demasiado mirabolantes ou por conveniências cobardes. O terceiro ato é bastante prejudicado por isto, acabando por se tornar o grande calcanhar de Aquiles de um filme que, até ali, operava num nível altíssimo.
“Gritos 6” é uma sequela que procura encontrar uma forma de revolucionar a fórmula sem romper totalmente com ela. O grande trunfo do filme são as sequências que envolvem a brutalidade do seu antagonista, mas sofre com alguma cobardia e decisões equivocadas, principalmente no terceiro ato, o pior da história da saga.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Sousa.
Amo Sidney Prescott a maior Final girl, ❤️
Nunca a adorei como personagem mas é inegável o seu impacto cultural.
Obrigado pelo comentário!
Abraço,
André Sousa