Mãe é o filme que marca a filmografia do realizador João Brás por ser a primeira longa-metragem que realiza. É, certamente, um marco e um virar de página para qualquer pessoa que faça este salto na realização de curtas-metragens para longas-metragens, não só pelos novos desafios que são enfrentados como pelo nervosismo adjacente a uma nova aventura com estas dimensões. E creio que esse desafio foi superado, não só pelo filme em si, que é uma obra interessante e que nunca nos deixa indiferentes ou aborrecidos, como também pela forte temática que traz ao grande ecrã de forma tão crua e sem filtros: a Doença de Alzheimer.
Para além da realização eficaz e que transparece, ao longo de todo o filme, o cunho e toque pessoal de João Brás, os grandes destaques positivos de Mãe passam sem dúvida pela história em conjunto com a edição/montagem, assim como pelas interpretações que no seu conjunto são bastante naturais e conseguem conjugar-se bem entre si, existindo uma química interessante entre as diversas personagens que atravessam o filme. Destaque claro para a interpretação da actriz Teresa Faria no papel da personagem central deste drama, que consegue transmitir diversas subtilezas com o seu olhar por vezes vazio ou por vezes carregado com imenso pesar ou profunda tristeza, e todas essas nuances são muito bem conseguidas. Também gostava de deixar uma nota positiva para as interpretações de Diogo Tavares e de todo o elenco madeirense (mais secundário) que a cada cena em que surgem conseguem ter a presença certa que a própria cena necessita, e isso é um objectivo difícil de alcançar que aqui foi conseguido.
Nota-se que em certos momentos o filme poderia ter ganho com uma produção e orçamento maiores, mas tendo em conta o que se produz de cinema em Portugal, e em que condições, só consigo mesmo dar os parabéns a toda a equipa deste filme pelo trabalho árduo que certamente tiveram e pelos obstáculos de produção que tiveram de superar, pelo que no cômputo geral estamos perante uma obra que não fica nada atrás de muitas outras produções.
Com uma temática tão dramática e profundamente triste, seria difícil fazer um filme que fosse menos melodramático, pelo que, a meu parecer, o objectivo do filme não é deixar o público em paz, mas sim deixá-lo abananado e que saia da sala de cinema a pensar e a reflectir. Para que isso seja possível é preciso ‘dar um murro no estômago’ aos espectadores, e é exactamente isso que este Mãe faz.
Um filme forte com um retrato difícil de uma realidade difícil. Mãe está agora em exibição em diversas salas de cinema em Portugal.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.