Era este filme realmente necessário? Não. Esta sequela diminui, de certa forma, o impacto do original? Sim, em alguns momentos. Mas estou feliz que tenha sido feita? Completamente. Para ser sincero, bastou-me ouvir a icónica banda sonora sobrevoar o coliseu no final para sentir que o meu bilhete valeu a pena. Não estou a exagerar quando digo que ouvir aquela música na sala de cinema fez-me querer levitar. Posto isto, a 59.ª longa-metragem de Ridley Scott, ainda que mantenha muitas das qualidades do seu antecessor, apresenta uma narrativa indecisa, que parece não saber exatamente o que quer ser ou qual rumo seguir. No entanto, devo dizer que, mesmo com alguns tropeços pelo caminho, entrega um final perspicaz e satisfatório, que acredito não estar a receber a atenção devida. Isso ou, talvez, eu esteja simplesmente maluco. Bem, quem vai ditar esse veredicto não sou eu, por isso, acompanhem-me na minha análise do novo Gladiador II.
Gostaria de começar por destacar a forma fantástica como o Império Romano é caracterizado, seja pelas personagens excêntricas, pela atmosfera vibrante do coliseu, pelas conspirações e traições, ou pela brutalidade dos conflitos. Tudo está ao mesmo nível — se não acima — do original. Como seria de esperar, a cinematografia e a realização de Ridley Scott também não dececionam, tornando este filme absolutamente épico. Por vezes, é como se estivéssemos no Coliseu de Roma, a sentir toda a adrenalina daquela multidão. Este filme é, de facto, uma experiência cinematográfica impressionante. E isto sem sequer mencionar a banda sonora… Outra grande qualidade que este filme preserva, relativamente ao original, é um protagonista bem caracterizado, com quem o público consegue facilmente criar empatia, o que torna a experiência mais envolvente. Além disso, reparei numa maior naturalidade nos diálogos, especialmente no personagem de Denzel Washington, que adiciona um tom mais realista e imersivo, o que me leva ao próximo ponto, as interpretações. Embora alguns momentos não sejam tão inspirados, os atores, no geral, são espetaculares. Nomes como Paul Mescal (Hanno/Lucius), Denzel Washington (Macrinus) e Joseph Quinn (Imperador Geta) destacam-se com atuações astronómicas. Surpreendentemente, Connie Nielsen (Lucilla), cujo papel no filme anterior é intocável, falha em certas ocasiões.
Comecei o texto por referir que este filme não era propriamente necessário. De facto, não é preciso um génio para assistir ao final lendário de Gladiador e perceber que a história estava concluída em todos os capítulos. Portanto, não me surpreende que esta sequela diminua, em certa medida, o impacto do original. Passo a explicar: a primeira cena deste filme é um texto que nos informa que o Império Romano está igual ou até pior do que quando Maximus (protagonista do primeiro filme) morre heroicamente no centro do Coliseu. Percebem o meu ponto quando falo de uma diminuição? Uma cena tão impactante como a morte de Maximus perde parte do seu valor logo no início desta sequela. Além disso, parte da conclusão do antecessor é que Maximus garante a segurança de Lucius, neto de Marco Aurélio e herdeiro ao trono. Acontece que, a meio do filme, é revelado que Lucius, imediatamente após os eventos do filme original, foi obrigado a abandonar tudo o que conhecia para garantir a sua segurança. Este detalhe retira ainda mais impacto ao final do primeiro capítulo. Por muito que estas falhas me aborreçam, não retiram qualidade ao filme em si; esse cargo é ocupado pela narrativa…
Falando agora do projeto em concreto, a narrativa deixa, de facto, a desejar. Esta sequela tenta ampliar a escala relativamente ao anterior, uma batalha inicial maior, mais violência, mais sequências de ação, batalhas navais no Coliseu e um maior drama político. Contudo, esquece-se de que mais estilo nem sempre significa mais substância. O início acelerado força, notavelmente, paralelismos entre a jornada de Hanno e a de Maximus, o que não só empobrece a narrativa, como também inibe quaisquer ideias originais durante todo o primeiro ato. Parece que tudo tem de remeter de alguma forma para o clássico, como se o filme tivesse receio de apresentar algo inteiramente novo. Aliás, ao longo do filme é evidente que o antecessor é utilizado como uma bengala emocional, se considerarmos que vários momentos-chave da história são apenas recriações. Verifiquem por vós mesmos, não é uma hipérbole. Apesar disso, à medida que a história progride, a trama ganha interesse, impulsionada maioritariamente pelo personagem de Pedro Pascal. No entanto, antes de completar as duas horas, o filme atinge um aparente clímax e, a partir daí, transforma-se num drama político que prioriza uma reimaginação de acontecimentos históricos (a ascensão de Macrinus ao poder) em vez da jornada pessoal do protagonista. É natural que seja necessário preencher o tempo de alguma forma, dado um início tão apressado… Não me interpretem mal, eu não me importo com a exploração do contexto histórico, mas acho que esta devia ter sido mais doseada, ou melhor, incorporada na história, algo que não parecesse tão circunstancial.
Mesmo com estas falhas narrativas, o filme entrega-nos um final satisfatório, no sentido em que Maximus e Hanno (mais tarde revelado como Lucius, filho de Maximus, péssima decisão, para que conste) ambos se realizam em diferentes capítulos da vida. Por um lado, Maximus encontra paz a nível pessoal, pois vinga a família e, no final, morre, cumprindo o seu desejo de se juntar a eles. Contudo, o seu sonho de uma Roma justa e democrática, como é referido no início deste filme, não se concretiza. Já Lucius alcança esse sonho ao unir uma Roma há muito dividida, devolvendo o poder ao povo. Porém, do ponto de vista pessoal, este tem de continuar a viver sem o seu pai, a sua mãe e a sua mulher. A meu ver, trata-se de um pormenor inteligente que adiciona algum sentido a esta sequela, que, desde cedo, tem dificuldade em justificar a sua existência.
É com pena que atribuo uma nota medíocre a este filme, que, segundo tenho observado, não foge muito à opinião de outros fãs e críticos. Afinal, tive uma boa experiência ao assisti-lo, mas quanto mais se disseca este filme, mais evidentes as suas lacunas se tornam. Talvez sirva de lição para entender porque uma sequela não deve ser forçada, sobretudo quando se trata de um clássico. Assim sendo, apesar do seu carácter épico, Gladiador II junta-se ao clube das sequelas desnecessárias e esquecíveis — uma tendência cada vez mais comum no cinema atual.
Classificação: 3 em 5 estrelas. Texto escrito por Francisco Empis.