Um filme que foi censurado em Itália logo após a sua estreia em pleno Festival de Veneza (1963) não podia esperar destino diferente num Portugal estrangulado pela ditadura… Habitualmente os censores dedicavam apenas uma ou outra frase aos motivos de censura em relatórios escritos à máquina com pouca ou nenhuma margem para recurso. No caso de Il Demonio foram escritos 3 parágrafos de mancha gráfica generosa mas imperceptível ao português comum, já que se trata apenas de um amontoado de letras sem nexo.
Brunello Rondi torna-se uma espécie de professor de William Friedkin que, dez anos depois, atira ao mundo o seu grande êxito O Exorcista. Os paralelos são inegáveis e as interpretações ainda contemplam resquícios do neo-realismo já que, houve atores amadores a contracenar com profissionais e fez-se questão de rodar o filme em aldeias do Sul de Itália para manter acesa a chama do folclore. A religião tem uma carga bruta nas vivências de quem vê o demónio numa performance brilhante e aterradora de Daliah Lavi com direito a contorcionismos macabros e olhares gélidos.
Na loucura, mesmo reconhecendo-se origens e clichês do que se adivinha uma Era próspera em Cinema de Terror, deve espreitar-se esta obra original e densa.
Texto escrito por Manuel Seatra. O filme aqui abordado faz parte da programação da 18ª edição do MOTELX.
