O filme Planet B passa por arauto de um caos vindouro, homenagem a um ativismo musculado e chapada no capitalismo. Um 3 em 1 com pitadas de terror geradas pela agonia e pela imprevisibilidade de um futuro qb próximo (passa-se em 2039).
Apresenta-se uma distopia não tão distópica que, tendo lugar numa sociedade estrangulada, assume também um lado rebelde que funciona como botija de oxigénio. Há uma grande lição sobre democracia que não é entregue em jeito moralista ou inócuo, o argumento deixa um espaço alegórico para se refletir sem abafar o enredo. Planet B vive também das interpretações fortes a espelhar de forma exímia a agonia dos pesadelos e o desespero da desconfiança. Destaco sobretudo os papéis de Adèle Exarchopoulos e Souheila Yacoub, encarnam mulheres de uma garra tremenda e sensibilidade corajosa.
Um trabalho thriller que roça o terror em breves momentos por via do grotesco e do futuro que se faz prometer no núcleo do enredo. No fundo, assisti-se à história clássica de peixe miúdo versus peixe graúdo, um fight the power a combater um fascismo militarizado com cara de IA. É pena que o final tenha sido resolvido de forma atabalhoada mas perdoa-se pelo recheio e pelo sabor rebelde da intriga.
Texto escrito por Manuel Seatra. O filme aqui abordado faz parte da programação da 18ª edição do MOTELX.