Punch, falta-lhe Judy
Poderá uma marioneta ser vidente? Ter um poder omnisciente de oráculo e/ou tomar as rédeas do destino? Fica a curtinha para se decifrar no sumo da expetativa… Pelo sim, pelo não, caso nos deparemos com um espetáculo de marionetas sobre nós mesmos, o melhor mesmo é não querer saber o final.
Adela, Bendita Contrição
Uma protagonista que se baliza por uma força bruta e todas as dúvidas que vão sobrando por detrás da câmara que a acompanha de uma forma quase discípula em contínuo. Uma Noite com Adela não tem interrupções – uma só sequência na odisseia de uma mulher vingativa e, nas palavras da própria, “de armas”. Tanto a música como o silêncio têm facetas de companhia e curiosidade.
As profundezas para onde vamos sendo conduzidos por Adela é onde queremos ir, tal é a força de um “querer desvendar”, seguimos quase-cegamente por uma noite caótica e obtusa, a busca por vingança soa-nos a insaciável na voz de Adela.
Aqui, a urbe é uma inevitabilidade, seja no silêncio manso do turno da noite, seja na companhia da radialista Genna que assume uma voz profunda, quase-terapêutica; um ombro para o desabafo. Uma solidão rodeada tanto pelo risco ocupacional, como pelas sombras do temor orgânico de uma cidade grande à noite.
É importante tentar ser-se enigmático como foi o realizador-argumentista Hugo Ruiz, deixar o filme falar e, mais ainda, deixar Adela falar, pensar, respirar…
Texto escrito por Manuel Seatra. Todos os filmes aqui abordados fazem parte da programação da 18ª edição do MOTELX.