Gia é uma mãe solteira que mora na Bay Area da Califórnia. Vivendo numa situação precária, estando numa terceira gravidez e tendo tido um histórico de consumo de drogas, os seus dois filhos estão ao cuidado de um centro de acolhimento até a sua situação se tornar estável. No entanto, todo o sistema em que se encontra parece funcionar contra este objetivo. Com um olhar que transborda empatia, Savanah Leaf segue o percurso desta mulher que tenta sobreviver as pressões sufocantes colocadas numa mulher que tem que provar ao estado e à sociedade à sua volta que tem a capacidade de ser mãe.
Com uma banda sonora que nos embala e uma cinematografia suave, este é um filme que plasma em si a crueldade silenciosa do estado sobre as secções mais vulneráveis da nossa sociedade. No entanto, com o olhar empático de Leaf, este filme nunca cai no melodrama ou num tom exploratório, contendo em si um estilo algo documentarista mas também mágico que nos envolve na sua história e nas emoções tão cruas neste filme. Esta emoção que pervade o filme é ampliada pela interpretação simples mas estonteante de Tia Nomore, que, nunca explodindo, transborda de uma guerra interna ansiosa e aflitiva que nos faz verdadeiramente compreender a sua personagem sem nunca verbalizar de forma óbvia a sua opressão.
Este é o grande ponto forte deste filme: a forma como nos faz compreender as opressões de classe que estão presentes neste drama coming-of-age apenas pela sua empatia visual. Não existe um grande monólogo emotivo ou uma explosão, mas existe um constante sufoco e uma constante ansiedade que vai, de forma subtil, se tornando mais insuportável à medida que o filme avança, sendo que o “breaking point”, apesar de também ser subtil, é emocionalmente arrasador graças a esta empatia que é criada pelo olhar e o argumento de Leaf.
Em Earth Mama, Savanah Leaf apresenta-se como uma das novas realizadoras americanas mais entusiasmantes. Com uma visão própria e com uma empatia pela condição humana extenuante, Leaf constrói um filme com uma dureza tremenda que, no entanto, apresenta uma esperança inabalável no seu âmago. É uma das primeiras longas mais notáveis dos últimos anos.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.