Crítica: Together (Juntos) / Três estrelas e meia por Duarte Cardoso

Together: Uma metáfora física para a codependência

3.5 estrelas Críticas

A longa de estreia de Michael Shanks no grande ecrã representa mais uma aposta promissora no body horror, um género que nos últimos tempos tem registado um notável renascimento e oferecido ao público surpresas memoráveis. Em Together, o realizador mergulha nos efeitos corrosivos de um relacionamento disfuncional, num terror visceral e densamente carregado de simbolismos.

O filme segue Millie (Alison Brie) e Tim (Dave Franco), um casal que se muda para uma casa isolada no interior de Washington, onde se vê forçado a confrontar os seus problemas conjugais. Durante uma caminhada de reconciliação, caem numa caverna misteriosa e, a partir desse momento, Tim passa a ter comportamentos perturbadores. Além disso, ambos descobrem que os seus corpos reagem de forma estranha e dolorosa sempre que se afastam. O que deveria renovar a relação transforma-se numa luta pela sobrevivência.

Desde a cena de abertura, que antecipa metafórica e subtilmente o percurso narrativo que o filme irá percorrer, somos constantemente confrontados com pequenos indícios da trama. É precisamente aí que o verdadeiro brilho da obra reside: no simbolismo e nas camadas de significado que transcendem o literal.

Together consegue um equilíbrio notável entre terror e comédia, proporcionando sustos genuínos e momentos de humor autênticos, sem que uns comprometam a eficácia dos outros. A escolha de um casal real para interpretar o par principal também se revelou particularmente interessante: os atores não só entregam performances sólidas individualmente, como a sua química natural contribui para a autenticidade da intimidade entre as personagens. Os efeitos visuais constituem outro ponto forte, sendo bastante bem executados e conseguindo criar momentos verdadeiramente angustiantes.

A história, apesar de algo previsível, mantém um ritmo sólido que sustenta o interesse em acompanhar o enredo até ao seu desfecho. Contudo, há vários aspetos que ficam insuficientemente desenvolvidos, pelo que mais 20 ou 30 minutos de duração seriam bem-vindos. O filme termina sem que percebamos ao certo quem é o antagonista nem o que está verdadeiramente a acontecer – trata-se de uma maldição? Uma entidade sobrenatural? Qual é a sua origem e o seu propósito?

Embora tenham sido inseridos diversos elementos narrativos para justificar as ações das personagens e o rumo da história, todos eles permanecem superficialmente explorados, deixando múltiplas questões por esclarecer e uma sensação de incompletude que prejudica a experiência global.

No geral, Together revelou-se uma experiência satisfatória. É um filme competente no propósito de entreter e deixa o espectador curioso e expectante em relação a futuros trabalhos do realizador.

Apesar do desenvolvimento narrativo incompleto, o filme consegue estimular uma reflexão interessante sobre questões contemporâneas relevantes: o que define verdadeiramente um casal, o que constitui a nossa identidade individual e onde se situa a linha que separa o amor saudável da dependência emocional, temas estes que, embora não totalmente explorados, conferem ao filme uma dimensão mais profunda que vai além do mero entretenimento.

Classificação: 3.5 em 5 estrelas. Texto escrito por Duarte Cardoso.

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