Inspirado numa história verídica e filmado numa prisão real, 3000 Nights conta a história de uma professora palestiniana recém-casada que é falsamente acusada e encarcerada numa prisão israelita onde dá à luz o seu filho. Através da sua luta para criar o filho atrás das grades, o filme traça a jornada de esperança, resiliência e sobrevivência de uma jovem mãe contra todas as probabilidades. 3000 Nights é um filme de 2015, realizado por Mai Masri, que integra a programação do Festival Olhares do Mediterrâneo deste ano de 2024, encerrando o ciclo ‘Olhares da Palestina‘ e é o último filme da 11ª edição do Olhares.
Mai Masri é uma realizadora cujo caminho é marcado por documentários, sendo esta a única longa-metragem de ficção, até agora, da mesma. E este filme demostra um traço muito próprio na maneira de filmar e de captar as diversas sequências e cenas, onde se denota uma atenção especial para certos pormenores e situações, que devem ter origem no estilo da realizadora, o que não demonstra em si algo de novo ou surpreendente, mas que apresenta em si uma realização e estilo bastante bem construídos, o que neste tipo de narrativa assegura que a obra não peca por si, e deixa o espectador focar-se no essencial, que é a história. Sendo esta uma história verídica, esse sentimento ainda fortalece mais o filme.
Muito pode ser dito sobre esta narrativa que aborda diversas situações que nos podem, e devem, irritar e trespassar sentimentos de raiva e outros que tais, mas é sem dúvida a resiliência e a vontade de uma mãe que se define como o ponto mais importante e forte de todo o filme, pois nas diversas situações que são apresentadas é essa força da personagem principal que sempre, de um modo ou de outro, consegue avançar de obstáculo em obstáculo. Todas estas emoções são transmitidas de forma irrepreensível pela actriz Maisa Abd Elhadi.
Este é daqueles filmes que se encaixa numa categoria muito própria, que eu defino como histórica/educativa, no sentido em que são filmes baseados em histórias verídicas e que de certa forma podem servir de ferramenta educativa ou de ferramenta/documento histórico (onde normalmente existem mais documentários, mas que certas ficções também se enquadram). Isto não retira, obviamente, nenhum valor artístico ou creativo a estes filmes, mas separa-os de certa forma a todos os outros que podem ter um objectivo mais virado para o entretenimento ou a fantasia. Mas todos têm o seu espaço e o seu lugar, e este 3000 Nights tem certamente um lugar de destaque.
Gostaria que existissem menos filmes assim, no que respeita ao seu conteúdo e história, mas infelizmente existem muitos mais, e vão continuar a existir, assim como tantos outros que nunca existirão porque muitas histórias já caíram no esquecimento de muitos. 3000 Nights teve a sua estreia mundial no Festival Internacional de Toronto, tendo já arrecadado inúmeros prémios e reconhecimentos em diversos festivais.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.
