Coraline - 15º Aniversário - Direitos atribuídos à produtora do filme

15 Anos Depois, ‘Coraline’ volta em 3D – A Jóia de Animação que Ainda Dá Calafrios

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Depois de assistir ao encontro recente de Deadpool e Wolverine, que me empolgou tanto quanto uma reunião de condomínio, decidi refrescar meu paladar cinematográfico com uma experiência que é pura magia artesanal: a versão restaurada e em 3D de Coraline (2009).

Como o maior fã de animação deste planeta (e possivelmente de alguns outros), fui assistir à re-estreia de Coraline com a edição especial de 15 anos, assistindo nos dias 15 e 17 de agosto. Sim, sou daqueles que se martirizam por perder uma única nuance de um filme que já vi dezenas de vezes. E, depois desta experiência, posso dizer: se não foi ver, lamento informar, mas deixou escapar uma das reexibições mais extraordinárias dos últimos tempos. Já ninguém o pode ver no cinema, e isso só aumenta a mística desta relíquia em 3D.

Se é como eu, um amante insaciável de animação e alguém que já não se impressiona facilmente com os truques tecnológicos do cinema moderno, então vai entender o meu entusiasmo por esta relíquia da animação stop-motion. Numa era em que CGI e efeitos especiais dominam a tela, Coraline é uma lembrança tangível de que o novo nem sempre é melhor. Para quem não está familiarizado, Coraline, baseado no livro homônimo de Neil Gaiman, é uma história sombria, quase um conto de fadas ao contrário, onde a jovem protagonista descobre um mundo paralelo que, inicialmente, parece muito melhor do que a sua realidade.

O que sempre me encantou em Coraline é como Selick capturou a essência do livro de Gaiman, adicionando toques visuais únicos ao stop-motion. A decisão de evitar o CGI em favor de técnicas tradicionais foi genial. Selick afirmou que a animação stop-motion traz um “calor e charme” que não podem ser replicados digitalmente. E ele estava certo. Esta técnica confere ao filme uma textura palpável, que torna o mundo de Coraline mais real e, paradoxalmente, mais aterrorizante.

Este enredo, inspirado por clássicos como Alice no País das Maravilhas e Hansel e Gretel, já tem uma rica paleta visual. E o que esta versão 3D faz é ampliar esta paleta visual de forma que, como Neil Gaiman comentou, talvez seja a melhor aplicação de 3D já vista em um filme. As cenas ganham camadas de profundidade que intensificam o olhar frio da Outra Mãe e a opressão do falso paraíso que ela criou. A animação, já impecável, brilha ainda mais com a remasterização. A vibrante ilusão do Outro Mundo torna-se ainda mais sedutora, enquanto a realidade monótona do mundo real de Coraline parece ainda mais opressiva e desbotada.

Além dos aspetos técnicos, a história é de uma beleza assombrosa. Uma narrativa inspirada nos contos de fadas clássicos, onde a busca por algo melhor nos faz esquecer de valorizar o que já temos. Esta moral é tão relevante hoje quanto era há 15 anos. A diferença entre os dois mundos de Coraline, como descrito por Selick, é paradoxal e profundamente simbólica. O mundo real é peculiar, mas contém as sutilezas que fazem a vida valer a pena, enquanto o Outro Mundo, apesar de sua fachada brilhante, revela-se uma armadilha claustrofóbica.

O que mais me fascinou nesta reexibição foi redescobrir a profundidade da narrativa e a genialidade visual do filme. A sensação de déjà vu, combinada com o 3D, transformou algo familiar em algo novo e intrigante. As acrobacias do Mr. Bobinsky, o desmoronamento do Outro Mundo e a transformação da Outra Mãe num monstro aracnídeo ficaram ainda mais impressionantes.

Se, por algum motivo, ainda não viu Coraline ou subestimou o poder do stop-motion, esta reexibição foi uma lembrança do porquê a animação é, talvez, a forma mais honesta de cinema. Coraline leva-nos a um lugar onde o impossível não só é possível, mas também lindo e assustador.

Depois de assistir a esta versão em 3D, sinto que a minha alma cinéfila foi purificada de toda a deceção acumulada com os blockbusters recentes (estou a olhar para ti, Deadpool e Wolverine), esta reexibição de Coraline não só fez jus ao original como, de certo modo, o reinventou. E isso é raro no mundo do cinema. Que venha o próximo aniversário, Laika. Lá estarei!

2 thoughts on “15 Anos Depois, ‘Coraline’ volta em 3D – A Jóia de Animação que Ainda Dá Calafrios

  1. Yaaa, finalmente! Adorei ver o Coraline em 3D, mas não posso deixar de fazer uma queixa. Sério, já estamos em 2024 e ainda temos filmes em inglês com legendas em inglês? A malta que está aqui em Portugal também tem o direito de perceber o que está a acontecer sem ter de decifrar tudo. Não é pedir muito, pá. Para além disso, foi uma cena brutal, o 3D deu um upgrade top e o stop-motion continua a ser uma arte que merece aplausos.

    1. Entendo-te perfeitamente e, por mais estranho que possa parecer, eu até gosto de ver filmes com legendas em inglês. Dá-me aquela confiança de que não vou perder nenhum detalhe do diálogo, mesmo quando o sotaque é daquele pesadão ou quando alguém sussurra de uma forma que nem o próprio realizador percebeu. Mas, vamos ser realistas, uma versão em português devia ter sido uma opção disponível, sem dúvida! Especialmente porque as legendas e a dobragem em português já existem! Foram feitas pelo Nuno Markl, enquanto ele fazia parte das Produções Fictícias!

      A falta desta dobragem e das legendas na versão que tu viste, suspeito que isso tem a ver com a distribuição. O filme, no DVD que eu tenho, foi lançado com todo o cuidado, com a dobragem e as legendas a que temos direito, mas parece que nesta nova distribuição a coisa foi feita de forma diferente, ou sem se preocuparem em garantir os direitos de exibição da versão portuguesa. Possivelmente, a distribuidora não quis ou não conseguiu negociar com a NOS, ou com quem detém atualmente esses direitos. É uma pena, porque isto afeta a experiência de um público que merece ter acesso ao melhor que o cinema pode oferecer, especialmente quando falamos de uma obra-prima como Coraline.

      Aqui fica o apelo: tragam-nos a dobragem e as legendas em português, como já fizeram antes, e façam-no com a qualidade que o público merece!

      Portanto, sim, tens toda a razão em te queixar, e espero que da próxima vez possas ver o filme em todo o seu esplendor, na nossa língua, com as vozes incríveis dos nossos dobradores.

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