A igreja católica é uma instituição que, quer queiramos quer não, tem uma influência considerável no mundo. Esta influência no entanto tem pouco a ver com religião e tudo a ver com política. Em Conclave, somos convidados a testemunhar os mecanismos secretivos dos bastidores do Vaticano. Após a morte de um Papa, um vácuo de poder é criado, e uma batalha silenciosa entre duas forças opostas dentro da igreja católica, uma liberal e uma conservadora, é acendida. O cardeal Lawrence, uma figura respeitada pelos dois campos em confronto, toma a responsabilidade de mediar a eleição do novo Papa. Circulando por entre jogos políticos, Edward Berger guia-nos por o que é um dos dramas políticos mais significativos do ano.
Um dos aspetos mais interessantes deste filme é que não nos tenta mostrar uma perspetiva neutra do drama que se desenrola. Conclave segue Lawrence à medida que este explora as teias políticas que emaranham o Vaticano e toma explicitamente a sua perspetiva. Desta forma, o filme consegue construir um retrato bastante humano de quem integra esta instituição. Estes homens não são pessoas perfeitas e neutras, mas sim pessoas com os seus próprios interesses, os seus próprios questionamentos existenciais e os seus desejos de poder. É desta perspetiva que vamos acompanhando os vários twists que vão assombrando esta eleição.
A partir desta clara perspetiva, a posição em que o Vaticano se encontra atualmente é dissecada de forma magistral. Desde o confronto entre grupos diferentes dentro da instituição ao confronto com questões sociais que afligem a igreja atualmente, este torna-se um verdadeiro medidor de pulsação não só do Vaticano mas da sociedade contemporânea em geral. Este não é um filme que necessariamente coloca em causa as bases do catolicismo, mas não tem medo de confrontar, questionar e até mesmo provocar – o final deste filme é exatamente das provocações mais brilhantes e mais necessárias que poderiam ter escrito.
Esta trama política é engrandecida por uma cinematografia e banda sonora sublimes que se subvertem mutuamente – por um lado a grandiosa beleza divina, por outro a pequenez da mesquinhez política humana. Para além disso, todas as interpretações, com especial destaque para Ralph Fiennes e Isabella Rossellini, sugam-nos para dentro deste filme magnífico. Não é preciso ser católico para se sentir absolutamente arrebatado por esta história de questionamento político e filosófico – eu sou agnóstico e estou aqui a escrever isto.
Conclave é o filme católico que precisamos neste momento. É um filme que coloca a nu os vícios de uma estrutura de poder como a do Vaticano, questionando-se e provocando. Com uma orquestração magnífica de Edward Berger, é, sem dúvida, um dos filmes mais interessantes e mais pertinentes do ano.
Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.
Bons actores, boa fotografia e pormenores curiosos do ritual (alguns talvez menos rigorosos na veracidade), pinceladas do retrato dos meandros políticos de qq instituição vivida por seres humanos, MAS mais uma manifestação da Agenda (desligar a dimensão biológica e espiritual do ser humano livre e ligar a dimensão pseudo-libertária-social do desejo/vontade egocêntrica do ser humano fantoche). Pena. Três estrelas pela oportunidade de conversas boas que poderá despoletar; porque algumas dúvidas podem destruir certezas e algumas certezas são descobertas pelas dúvidas. Mas que as há, há; certezas e dúvidas. O relativismo às vezes pode ser a cedência à preguiça ou ao medo de ir mais longe.