O Clube - 5 estrelas

O Clube: mais do que um murro no estômago

5 estrelas Críticas

Este é o primeiro filme do realizador Pablo Larraín que eu vejo, e devo confessar que é uma primeira impressão muito positiva. O filme “O Clube” foi realizado em 2015 e está disponível para streaming na plataforma FILMIN, tratando de um tema que parece estar a meu ver ainda mais proeminente nos dias que correm, em comparação com o ano de 2015.

Questões de fé e de expiação de pecados, a batalha interna e externa/social entre o ‘Bem’ e o ‘Mal’, não representam, em si mesmo, novos temas a serem abordados nas diversas artes, contudo a forma crua e cruel com que assuntos como abusos sexuais a menores são colocados nesta obra é de um impacto tal que não conseguimos simplesmente desligar-nos dos mesmos.

Explicando isto melhor, não se trata somente da exploração de um tema já por si forte e carregadamente dramático, mas também do aprofundamento dos efeitos mentais e sociais que estas situações causam e trazem ao nosso mundo, sendo essas questões muitas vezes suprimidas e afogadas no extenso mar de temas e situações que ocupam a sociedade que nos rodeia, e este filme consegue não só trazer isso à baila, mas também agarrar o espectador e colocá-lo no seio desse problema, quase que o ‘obrigando’ a reparar e a reflectir.

Todas as nuances narrativas estão muito bem desenvolvidas e apresentadas, sendo poucos os diálogos que não têem em si um subtexto, ou que estejam interligados a outros diálogos ao longo do filme, e essa capacidade de coesão enriquece a obra e eleva-a a outro patamar. Tanto que, para um filme com uma sinopse tão pesada e forte, a sua dinâmica temporal é bastante rica, não existindo ‘tempos mortos’ no filme, sendo que se consegue estar agarrado à evolução da história do primeiro ao último filme, quase como se fosse um thriller e não um grande drama. E para mim isso só acrescenta ainda mais ao filme e ao seu impacto.

Em tudo o resto, o filme mais do que cumpre, com interpretações de excelência, montagem, fotografia e por aí fora, sendo que o estilo muito próprio de planos e de palete de cores dá um aspecto particular ao mesmo. Aconselho vivamente este filme, mas alerto para a sensibilidade do tema e para a honestidade do mesmo, sendo que acho tratar-se de um filme deveras importante e quase que deveria ser utilizado como ferramenta social para questões relacionadas com temas como os abusos na igreja, a religião como instituição, etc. Este filme não é só um murro no estômago, mas sim vários.

Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por André Marques.

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