Crítica: Flow / Fluir - Cinco estrelas por Baldaia - Cinema em Portugal

Flow: Fluir da sobrevivência à vivência

5 estrelas CINANIMA CineEco Críticas MotelX

O filme letão, realizado por Gints Zilbalodis, acompanha um gato solitário, vítima de uma enorme inundação que lhe rouba o habitat. O protagonista encontra refúgio num barco com animais de várias espécies que, juntos, navegam os desafios de adaptação a um mundo transformado.

Com base bíblica no grande Dilúvio e fundamento real em histórias tanto contemporâneas como passadas de refugiados, Flow conquista a compaixão dos espectadores através do estilo de animação simples – no melhor dos sentidos – e do amor universal pelos animais. No filme, os animais, apesar de terem inteligência e destreza um pouco além do realismo, são representados de forma fidedigna à realidade. Tratando-se de uma analogia comum a várias sociedades do nosso mundo, a ausência de diálogo permite uma fácil transposição do espectador para os personagens do filme. Quer se trate de alguém que se viu forçado a abandonar o seu lar e a procurar uma nova “família escolhida”, ou alguém que teve de abandonar o seu país e procurar refúgio do outro lado do oceano, toda a gente conseguirá facilmente reconhecer-se, ou reconhecer alguém seu próximo, na jornada dos personagens deste filme.

O título do filme, “Fluir”, coaduna-se com o desastre natural representado na obra cinematográfica, mas também com a jornada dos personagens. Ao longo do filme, estes, involuntariamente, passam de um estado de sobrevivência – no qual são forçados a conviver com desconhecidos e, em alguns casos, inimigos naturais – a um estado de vivência – pegando nas consequências do desastre que lhes destabilizou as vidas e tornando-as numa mais-valia que, em certa medida, amonta a uma vida ainda mais completa do que aquela que tinham anteriormente.

A animação dá prioridade ao conteúdo sobre o estilo. Zilbalodis decidiu apostar na complexidade emocional e na representação de comportamentos e maneirismos típicos de cada um dos animais do filme. Tratando-se de uma obra sem diálogo, a personalidade e a evolução da história apoia-se inteiramente nestes aspetos, algo que os cineastas conseguiram usar a seu favor. Em momento algum somos deixados com a sensação de que falta algo ao filme, muito pelo contrário. Pequenos momentos de reação dos animais – quer uns aos outros, quer ao desastre que os rodeia – aproximam-nos de nós, mesmo sem palavras, o espectador consegue facilmente ler no rosto dos personagens o que eles estão a pensar.

O estilo de animação, pelo menos no que toca à minha experiência de visionamento, também é particularmente apelativo aos nossos companheiros de quatro patas. Cheio de cores vibrantes, movimentos chamativos e, claro, sons e onomatopeias que lhes são familiares, Flow será uma experiência enriquecedora para, verdadeiramente, toda a família.

Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por Baldaia.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *