Às vezes parece que a empatia que filmes sobre a vida de prisioneiros criam nos espectadores é algo limitada. Toda a gente emocionou-se em Shawhsank Redemption e The Green Mile, entre outros grandes clássicos nesta temática. No entanto, quando se analisa a opinião pública parece que essa empatia se singe apenas a prisioneiros na ficção. Quando se trata de prisioneiros na vida real, parece que qualquer violência física ou psicológica é justificada pelo crime cometido, como se algo alguma vez justificasse retirar a humanidade de alguém. No entanto, em Sing Sing parece haver um passo para se ultrapassar esta barreira entre prisioneiros na ficção e prisioneiros na realidade e a forma como o público os encara.
Baseado no programa Rehabilitation Through the Arts (RTA), neste filme seguimos a vida de um grupo de prisioneiros no famoso complexo prisional de Sing Sing, no estado de Nova York. O que poderia ser um filme que segue o percurso normal deste tipo de drama é, no entanto, subvertido pelo facto de que, à parte dos atores Colman Domingo e Paul Raci, o filme é protagonizado por ex-prisioneiros que fizeram partes do RTA. Este facto, juntado com uma fotografia lindíssima de Pat Scola e uma realização sensível de Greg Kwedar, faz com que este filme tenha um impacto emocional sem paralelo.
Durante duas horas, vamos conhecendo estes homens e somos embrenhados em todo o seu contexto, quer na sua situação atual, quer de onde vieram. É uma experiência quase claustrofóbica mas, no entanto, extremamente humana, com cada um destes homens sendo dada a humanidade que merecem. É de salientar a interpretação incrível de Clarence Maclin, cuja personagem, que é uma versão dele, tem um percurso de transformação interior arrebatador. Esta transformação, este contacto com as próprias emoções reprimidas que cada um destes homens atravessa, repressão essa que é consequência do contexto de violência em que vivem, é permitido pela reabilitação através das artes. É esta transformação e esta nova oportunidade que observamos ao longo do filme, e é isto que torna este filme tão belo e importante.
Sing Sing é um filme invulgar pois, apesar do seu tema, apresenta esperança. Esperança na reabilitação prisional, esperança na superação dos contextos adversos, esperança na arte e no ser humano. Com mais uma interpretação de peso de Colman Domingo, provando que ele é dos melhores atores neste momento, este é um filme necessário no momento em que vivemos, em que vemos um ressurgir de retóricas violentas e desumanizantes. Talvez através deste filme seja possível superar esta violência e a barreira da empatia que aparentemente existe.
Classificação: 4 em 5 estrelas. Texto escrito por Jasmim Bettencourt.