Dance With the Devil – Onde para o Clero?
A série “Cops” estava bem enterrada na minha nuca de adolescente ou mesmo pré-adolescente em fins de tarde na Fox Crime à espera dos Simpsons no canal vizinho. A série “Cops” foi subitamente desenterrada pela curta britânica Dance With the Devil. A cada passo de câmara em punho e equipa de documentário nada faz prever a barrigada de riso que se avizinha. Um padre e o seu assistente fazem exorcismos ao domicílio de forma orgulhosamente independente mas arrojadamente trapalhona. A curta-metragem consegue albergar em si uma rixa com uma dupla ortodoxa, um demónio já conhecido do padre Marcus (protagonista) e o estágio do seu assistente/aprendiz que se mostra desapontado com as esperas longas que implica o ofício. Serviu de belo amuse-bouche para a longa-metragem que se seguia (também ela dada a gargalhadas).
Sister Midnight – cocktail-delírio
No Cinema, o silêncio também é som. Sister Midnight é uma mescla autêntica de sonoplastia cómica, humor físico, detalhes trabalhados entre olhares e encolher de ombros mas nem por isso minimal. Fazer bom uso destes tropes sem se tornar cansativo ou repetitivo é maior arte do que rotular este filme de Terror mas já lá chego…*
No labirinto onírico de um casamento forçado há uma protagonista (curiosamente chamada Uma) que viaja pelos labirintos do tédio e do desejo. *Agora sim: A dado momento a Comédia vira Horror mas mantendo sempre pontadas de escárnio ou nuances caóticas a servir o Fantástico. Tão camuflado ou ofuscado pelo brilhantismo da interpretação e por um filme que sufoca no meio urbano individualista e sujo, não lhe cheirei o terror (nem sinto que lhe faça falta, foi agradável surpresa nas doses certas). Não é fácil falar-se de um filme que resulta tão bem em silêncio. O melhor será mesmo deixar o enredo amealhar a expetativa e os olhos esbugalhados…
Texto escrito por Manuel Seatra. Todos os filmes aqui abordados fazem parte da programação da 18ª edição do MOTELX.