Home Alone ou Sozinho em Casa, se preferirem, é, para mim, o melhor filme de Natal até à data. E, ao contrário do que muitos possam pensar, tal opinião não se deve à memorável e eterna cena dos ladrões a invadirem a casa e a serem vencidos pelas armadilhas de uma criança — que, mesmo após tantos, ainda proporciona gargalhadas. Não, este filme destaca-se pela forma brilhante como incorpora o Natal na sua história. Sejamos religiosos ou não, o Natal é tempo de família, reunião, redenção e bondade, já dizia Andy Williams, “It’s the most wonderful time of the year”. E é exatamente isso que o realizador Chris Columbus nos entrega nesta aventura intemporal de Natal.
Certamente, esta história dispensa apresentações, no entanto, com o intuito de vos contextualizar vou resumi-la: com uma viagem de família à porta, Kevin sente-se injustiçado e farto da sua família, que, segundo ele, o culpa por tudo. Assim, deseja acordar no dia seguinte sem a família e, quando acidentalmente estes se esquecem dele, Kevin acorda sozinho em casa e pensa que o seu desejo se concretizou. Embora a liberdade e o divertimento saibam bem ao início, não tarda até que este se arrependa e deseje que o seu único presente naquele ano seja ter a sua família de volta. A meu ver, trata-se de uma mensagem importante e verdadeiramente bonita, afinal, de que vale toda a liberdade do mundo se não a podemos partilhar com quem mais gostamos? Acho que não falo só por mim quando digo que a família pode ser desafiante, contudo, aprender a lidar com as nossas diferenças com o objetivo de melhorar a convivência, é uma ferramenta essencial para toda a nossa vida. E isto vai desde a família até ao ambiente de trabalho, por exemplo. Uma das razões para esta mensagem ser extremamente eficaz é a facilidade com que qualquer pessoa se identifica com esta história. Quem nunca teve um irmão mais velho, por vezes, insuportável? Ou quem nunca se sentiu injustiçado pelos pais? Enfim, faz tudo parte do crescimento, o que importa é que a afeição que sentimos por essas pessoas supera quaisquer pequenas ocorrências deste estilo.
Outra mensagem marcante que este filme passa é que devemos superar os nossos medos, seja num caso mais superficial, como uma criança ter medo da cave e do sótão, num lado mais fictício como ter a coragem de defender a própria casa de ladrões (o que obviamente não é recomendável), ou de um modo mais profundo e emocional, através de um homem idoso que, graças ao conselho de um rapaz, ganha coragem para recuperar a sua relação com o filho a tempo de se reunir com ele e com a neta para o Natal. Mais uma vez, o Natal é família e redenção. O espírito natalício também é transfigurado para este filme na perfeição através dos inúmeros atos de bondade presentes na história: a mulher que sente empatia por uma mãe desesperada e aceita trocar o seu bilhete; o homem que oferece uma longa boleia a uma desconhecida; dois indivíduos de gerações diferentes a ajudarem-se mutuamente… De qualquer forma, a sequência mais emocional deste clássico é, sem dúvida, o reencontro de Kevin com a sua mãe na manhã de Natal que, acompanhado da banda sonora de John Williams, nunca falha em trazer-me uma lágrima ao olho. Posto isto, imaginei o meu choque ao ler um comentário no TikTok a insinuar que o único aspeto natalício deste filme é passar-se no Natal! Não o posso censurar, pois foi essa a razão por detrás deste texto.
Em suma, Joe Pesci e todo o humor leve do filme são de qualidade inegável, assim como Kevin a defender a própria casa. Todavia, a razão pela qual assistir a este filme todos os anos antes do Natal é obrigatório é o seu espírito e coração, que trazem consigo uma atmosfera de Natal inigualável!
Classificação: 5 em 5 estrelas. Texto escrito por Francisco Empis.